“O tempo persegue a todos nós, não é?”
Com sete indicações ao Oscar, uma bela fotografia de época, uma trilha sonora envolvente e maravilhosa e com atuações esplêndidas, “Em busca da terra do nunca” com direção de Marc Forster, nos leva ao um mundo onde sonhos e a realidade se mesclam numa junção perfeita. Um mundo onde não há dores ou problemas. Um mundo onde somos fortes e invencíveis, em que alcançamos os céus e vivemos grandes batalhas. Uma terra onde o tempo não pode nos tocar ou nos causar receio e medo e a morte está tão longe, quanto a velhice. Por meio desse longa, somos convidados a conhecer o autor e a inspiração por traz de um grande clássico da literatura universal que moveu e emocionou diversas gerações: “Peter Pan”.
James M. Barrie (Johnny Depp) é um dramaturgo que está passando por um momento de crise. Sua última peça não recebeu muitos bons elogios, pelo contrario, foi massacrada tanto pela crítica, quanto pelo público. É nesse momento num dos seus passeios pelo parque da cidade que ele conhece por acaso uma jovem viúva, Sylvia Daves (Kate Winslet), e seus quatro filhos. Com eles, Barrie passará a viver grandes aventuras, onde índios e piratas vivem num mesmo mundo. Tudo isso lhe servirá de inspiração para ele produzir o seu maio trabalho.
Com uma obra sensível, longa mostra com delicadeza e perfeição essa amizade entre o autor e as crianças. Uma amizade que com o decorrer do filme se mostrará incerta aos olhos da sociedade, inclusive da sua própria esposa (Radha Mitchell). Seu envolvimento com Sylvia também se dará de forma leve, inocente, profunda e tocante.
Barrie é um homem cheio de imaginação e isso fica claro no começo do filme, o argumento do diretor mostrando imaginação e realidade juntas para demonstrar quão fértil e criativo é James foi uma jogada muito boa. Nesse sentido, um cachorro virará um urso adestrado, crianças voarão, um mundo encantado se abrirá numa plena sala de casa. Como o próprio James afirma no filme: basta usar a imaginação. Mas diante de tantos sonhos, a realidade sempre virá mostrando a que mundo eles pertencem. Seu casamento será abalado por esse envolvimento com a família, a avó das crianças, Mrs. Emma (Julie Christie), também verá com maus olhos essa amizade. A própria Sylvia ficará mexida com ele. Porém diante de tudo isso, outro problema muito mais trágico e doloroso se mostrará forte diante deles.
“Em busca da terra do nunca” é uma fabula eloqüente, sua trilha sonora, que ganhou o Oscar de melhor trilha, desperta em nós o desejo e a vontade de participar dessa história, de sonhar e imaginar. A Terra do Nunca proposta pelo diretor é encantadora e envolvente, seu final é comovente e belo.
Depp está incrível como Barrie, fantasioso, inventivo, ele consegue exprimir até o sotaque perfeitamente do autor. Sua atuação é singela e soberba, merecendo sua indicação ao Oscar. Kate Winslet mostra realmente que é uma excelente atriz da sua geração, como a mãe dos garotos ela é forte, protetora e sonhadora. Mas diante desse elenco formidável, o destaque vai para o pequeno Peter (Freddie Highmore), um garoto simplesmente admirável, seu olhar nos comove e nos alegra, uma atuação verdadeira e encantadora.
A fotografia é outro ponto positivo. O diretor soube usar muito bem os planos fechados. A cena final do filme, do Barrie e Peter num banco é bela e simples. A direção de Marc Forster é muito boa. Nessa segunda investida no cinema, Forster mostrou um trabalho totalmente distinto do primeiro longa, o trágico e denso “A última ceia”, aqui neste “Em busca...” ele utiliza toda suavidade possível para nos contar uma história sobre fantasias, sonhos e desejos. Um filme tocante que merecidamente foi indicado ao Oscar de Melhor filme.
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