Amor e outras drogas, apesar de parecer uma comédia romântica e os produtores tentarem vender como tal, vai além de uma história cômica para apresentar um drama forte e consistente, chegando até ser, em certos momentos, denso. Ainda há graça nisso?
Primeiramente conhecemos Jamie (Jake Gyllenhaal), ovelha negra da família, seus pais são médicos, sua irmã é médica e seu irmão mais novo, apesar de ser bem esquisito, é um profissional bem sucedido, e Jamie, bom, ele é um vendedor que deixou os estudos e agora vive conforme vão aparecendo oportunidades. No único ponto em que ele é fera é em conseguir sexo fácil com as mulheres.
Após perder o último emprego, ele resolve entrar para o mundo das grandes redes de empresas farmacêuticas, nesse novo ramo, após sofrer um bocado, ele conhece Maggie (Anne Hathaway), uma garota que sofre com o Mal de Parkinson. Ela é bonita e atraente e os dois, após um diálogo cheios de verdades e bem direto, passam a ter um caso movido a sexo. Os dois são bem categóricos, não querem sentimentos envolvidos nisso, mas como não podemos direcionar nossas vidas da real forma que desejamos, Jamie se apaixona por ela e é partir desse momento que o filme engatinha para situações mais sérias. Por Maggie ter essa doença, ela não deseja comprometimento com ninguém, pois tem conhecimento que sua situação só tende a piorar, já Jamie a cada dia que passa vai percebendo o quanto a ama.
O longa se passa na década de 90, época essa em que surge nos Estados Unidos um grande milagre, o Citrato de Sildenafil, mais conhecido como Viagra e é esse o produto que Jamie, após conseguir a aprovação da empresa, vai vender. Basicamente, o filme se centra nesses dois fatores: o envolvimento de Jamie com Maggie e suas vendas desse novo medicamento que faz milagres.
Amor e outras drogas é isso, porém há três fatores que fazem deste filme ficar acima de média: o elenco, o tema e a história abordada e sua trilha sonora. Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway haviam trabalhados juntos em “O segredo de Brokeback Mountain”, desde então, seguiram caminhos distintos e firmaram suas carreiras, agora voltam nesse filme em personagens totalmente diferentes, mas eles conseguem ter uma sintonia ótima em cena. Os dois estão muito bem confortáveis em seus papéis, dando veracidade, emoção e calor aos seus personagens. Eles são o centro da trama e tomam ela para si, ela merecidamente foi indicada ao Globo de Ouro e ele, infelizmente, foi esquecido.
Outro ponto forte do filme é a história. Apesar do longa ser sobre eles dois, a figura das empresas farmacêuticas e o surgimento do Viagra corre paralelamente ao contexto do longa. Um dos motivos, levantados pelos críticos para tentar entender o porquê do filme ter derrapado feio nas bilheterias norte-americanas, é que ele faz uma dura, ácida e mordaz crítica a esses gigantes, fato esse não visto com bom olhos pelos americanos. Além do mais, o modo como a história desenvolve a busca de Maggie por uma cura e a piora de sua doença, fazem com que o longa fique mais dramático do que cômico e isso eleva o grau do filme. Para aqueles que acham que vão encontrar um longa apenas com os dois sempre quase nus e em cenas engraçadas, ficará surpreso com o peso que a história vai ganhando ao desenrolar do filme.
E como último ponto, cito a trilha sonora, ela é muito gostosa, bacana e as referências a década de noventa, feitas no começo do longa, são ótimas, destaque para a cena da abertura de Arquivo X, na loja em que Jamie trabalha, quer mais clima de anos noventa do que esse. Há uma canção meio soul que toca nos momentos mais delicados do filme, não sei qual é, mas ela deixa as cenas, nem tão melosas, mas também, nem tão secas, um ritmo agradável e envolvente.
O único pecado do filme é ao final, ele infelizmente se rende ao clichê das comédias, com direito ao mocinho tentar parar o ônibus de viagem em que está a mocinha e tentar convencê-la de que a ama e os dois podem ser felizes juntos. Bom, isso é chato, depois de excelentes momentos com ótimos diálogos e um bom entrosamento entre os atores, o diretor poderia ter colocado uma saída mais interessante a altura do filme, pena.
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