Harry Caine é um segurança de shopping que teve a esposa assassinada e quer obsessivamente descobrir o porquê. Parece a comum sinopse para um thriller café com leite, porém não se deve enganar, Refn comete erros, mas sempre evita o lugar comum.

Uma das marcas registradas do diretor são as fortes cores com alto contraste (repare em Drive, Bronson e, provavelmente, Only God Forgives) e o respeito pelo silêncio, pouco comum nesse tipo de filme, já que até os melhores diretores mantém vários diálogos expositivos para revelar o 'quem' e os 'porquês'. Em Medo X o silêncio é respeitado, mas as cenas não têm a simetria, as cores contrastantes ou a fluidez vista nos outros filmes do diretor.

O mais desanimador, no entanto, não é a falta de inspiração na composição das imagens; e sim a péssima edição do filme. Em diversos momentos aparecem erros de continuação tão amadores que chegam a impressionar: John Turturro esta olhando pra frente -troca o angulo- Turturro esta com a cabeça inclinada pra cima, abaixando-a para a posiçao anterior. Para ver esse tipo de erro, repare na cena onde Harry conversa com Phil, enquanto este mexe em seu carro. Ou na cena em que Harry esta entrando em uma determinada casa com uma lanterna.

A pergunta que fica é 'o que o filme oferece' e a resposta seria 'um clima relativamente tenso e uma história mediana'. O clima se deve pelas duas localizações principais: a cidadezinha onde Harry mora, onde a neve e o isolamento predominam (cidade parecida com Fargo) enquanto o protagonista encara sua busca solitária; e o hotel onde se hospeda- trazendo o estilo Refn brevemente- parecendo uma mistura de Overlook com o Black Lodge de Twin Peaks. Já o roteiro, torna-se mediano na medida em que traz personagens rasos e com pouca emoção, intrigas incompletas e nem um pouco tão bem elaborada quanto outros do genero (Seven, Garota Exemplar), além do diálogo ser mínimo e a história parecer ter poucos conflitos.

Ironicamente, o silêncio que funciona bem e é uma marca de Refn, também é sua falha maior no filme. Em Pusher, alguns personagens que surgem temporariamente são muito carismáticos justamente pelas coisas dizem; nesse filme, o personagem que acompanhamos por 1h30 não tem muito carisma, justamente pela falta de interação com outras pessoas, poucas falas e pela seriedade exagerada do roteiro.

No fim das contas, o filme tenta levantar a questão de que a obsessao humana em encontrar respostas é absurda, e paralelamente traz imagens que sugerem uma raiva enorme prestes a explodir no protagonista. Porém não tem sucesso, pois a questão da busca é simples e fica por isso mesmo; quanto a raiva, é mal desenvolvida surgindo como uma versão tosca de David Lynch.