Dirigido pelo virtuoso Sergio Martino, cineasta que realizaria belos filmes no gênero terror, se desalinharia da sua carreira aventurando-se em um gênero honrado, porém tido como envelhecido. Vingança Cega (Mannaja, 1977) não apresenta nada que não tenhamos visto exaustivamente no western spaghetti em termos roteiro, mas a qualidade artificial de Martino encobre toda a ausência de originalidade. Mas todos sabem que um bom faroeste à italiana não se dá pela qualidade e originalidade de seu roteiro, mas o domínio técnico que o diretor deve ter sobre os seus mais subjetivos aspectos. Martino dá uma aula de como filmar western spaghetti.
Mannaja (Maurizio Merli) é um caçador de recompensas, que ao invés de uma habitual pistola, prefere usar uma machadinha. Mannaja chega a uma cidade mineira e é contratado para rastrear a filha desaparecida do prefeito aleijado da cidade e descobre que ela foi raptada pelo corrupto aliado do prefeito e um bando de foras da lei. A busca por justiça irá desencadear uma enorme onda de violência.
Quando Sergio Leone recriou o gênero genuinamente americano, o faroeste italiano ganhou novos aspectos singulares que tornariam-se marcas registradas do gênero. Esses excêntricos feitios são profundamente explorados por Martino neste filme, tendo uma obra italiana ao extremo construída com um visual que perderia em originalidade, mas ganharia em termos estéticos. Martino sabia muito bem que o nível criativo de Leone e, por momentos, Sergio Corbucci seria inatingível, e o que caberia a Martino seria aproveitar ao máximo o que esses grandes mestres do gênero vincularam. O que Martino traz de si próprio para a obra é o seu clímax sempre montado de forma categórica, excepcionalmente decisiva para uma funcionalidade de suas ideias que traria uma sensação de autoestima por parte do diretor. Martino construiu sua carreira quase que exclusivamente voltada para o gênero terror, e sua única experiência no western (ao menos é o único do qual tenho informação) tem um tempero de um thriller, que cria um clima assombroso, proliferando uma ideia constituída de cenas rasas e impactantes.
A obra apresenta consigo ao menos quatro aspectos obrigatórios no western italiano, explorados com desenvoltura por Martino. Cada diretor aproveita os aspectos da sua forma, assim como acontece no gênero film-noir, que possui definição complexa e característica peculiares. Martino sempre utiliza de (1º aspecto) flashbacks para a criação de uma mística em torno do passado emblemático do (2º aspecto) anti-herói. Os anti-heróis do faroeste italiano vêm quase sempre com o objetivo de vingança e por vezes é um ilustre caçador de recompensas que busca uma identidade, mas de uma ética incomum. (3º aspecto) Os zooms e closes, pode-se dizer que são os aspectos mais triviais do faroeste italiano, que necessita de um aprimoramento técnico deslumbrante, sabendo que a utilização deste recurso nem sempre fica como a desejada.
Separadamente aqui escrevo sobre o quarto e não menos importante aspecto. É óbvio que todo filme necessita de uma boa trilha sonora – alguns sequer têm -, mas no western spaghetti esse aspecto tem papel fundamental. Todo bom faroeste italiano inicia-se com sua boa trilha sonora. Sergio Leone tornou isso obrigatório ao lado de Ennio Morricone, trazendo muito mais importância para as suas atividades, funcionando melhor do que diálogos em certos momentos. Tudo o que o filme vai aspirar dali por diante é exposto através de sua trilha sonora. Guido e Maurizio de Angelis quase que repetem a composição feita para o filme Keoma (idem, 1976), mas executam desse modo para que possam conquistar o mesmo efeito.
Uma experiência mais do que válida de Sergio Martino, que apresenta uma obra plausível - não chega a ser uma obra-prima -. Traz toda a adrenalina amoral do velho oeste, apresentando o ser humano como um ser ambicioso, de cobiça, sentimento rústico, rude, sádico e cruel que o oeste selvagem pretende proporcionar.
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