É fato que Leone foi o maior diretor que já passou pelo western – talvez o maior diretor que já passou pelo cinema -, mas Corbucci também merece nosso respeito pelas suas obras que são no mínimo plausíveis. A mais famosa película do diretor é Django (Idem, 1966), um excelente exemplar do western à italiana, porém apesar de menos conhecido o seu melhor filme é O Vingador Silencioso. Um filme de dramaticidade e aspectos impares.
Um homem misterioso e mudo (Jean-Louis Trintignant) chega a uma pequena cidade em uma diligência com um xerife (Frank Wolff) e um caçador de recompensa (Klaus Kinski) e alguns cadáveres. Lá na cidade o mudo recebe uma proposta de uma mulher para que mate o caçador de recompensas, já que o mesmo assassinou o seu marido. O xerife, por sua vez, quer que a cidade siga em paz e faz e tudo para impedir confusões, mas a violência irá tomar de conta da cidade.
Os opositores do western spaghetti na época denominavam o gênero de “lixos de sangue”. O fato é que este é um dos filmes de maior nível de violência do spaguetti, e que de lixo não tem nada, apenas as revelações da podridão da sociedade americana em séculos passados que vem se estendendo até os dias de hoje. A ambição pelo poder, pelo dinheiro, o preconceito, e a grande revelação final que causa grande impacto, são temas tratados na maioria dos faroestes italianos, que resultam em protestos americanos que ficam contra o sub-gênero, por conta de revelarem a escória da sociedade americana do qual teimam em conter os fatos.
Corbucci é um diretor acima da média. Sabe muito bem como conduzir um clímax e uma história, suas cenas violentas intensamente dirigidas nos impulsionam a um resultado de extrema eficiência. O diretor sempre preserva a mística por trás do personagem principal, anexando o seu passado, os motivos – apesar de já telegrafados -, e o Silencioso é de uma estranheza abissal. Em Django, diretor conseguiu como nunca preservar o mistério do caixão, no qual havia uma metralhadora, mas o modo como o diretor criou um mistério em torno daquilo foi extraordinário. Direção formidável de Corbucci, principal responsável pelo excelente resultado do filme.
O responsável pela trilha sonora foi novamente o grande colaborador com o faroeste italiano Ennio Morricone. Por ser ele o compositor da trilha sonora do filme nem precisa dizer que a trilha é excelente, tem um dom natural e exuberante. Neste filme sua trilha é impactante, perturbadora e incomum resultando no que já foi citado no inicio do texto, em um tom de dramaticidade.
Montanhas quentes, arejadas, cenários em que a poeira toma conta de tudo. Não, O Vingador Silencioso não conta com estes aspectos tradicionais vistos na maioria dos westerns vistos. Os ambientes aqui retratados são frios, na neve. Deste modo o anti-herói consegue ainda mais enaltecer sua figura. Por falar no anti-herói, o ator responsável pelo papel, Trintignant, consegue de maneira magnífica exaltar sua personalidade. De poucas palavras, ou melhor, de nenhuma palavra, é de se elogiar sua interpretação assustadora, que resulta em um personagem do estilo perfeito de um pistoleiro exigido pelo público.
Por fim, O Vingador Silencioso consegue transmitir toda a adrenalina que carrega. O melhor filme do italiano Sergio Corbucci, que demonstra sua capacidade em roteiros e direção. Mesmo Django sendo mais conhecido, este consegue ser mais eficiente e explora mais os seus temas.
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