Quando Eastwood surgiu nos primeiros trabalhos de Sergio Leone na “trilogia dos dólares” como um caçador de recompensas sem nome e sem destino, de imediato foi criado uma identidade com o gênero western. Sua figura criada por Leone era exatamente a contrária da de John Wayne, a lenda do gênero, que era o modelo de masculinidade a ser seguido na época, como o grande herói, machão e sempre bem vestido. Eastwood por sua vez, construiu uma imagem de anti-herói em seus personagens, do qual causava repudio no publico, pela falta de princípios e sua ética amoral, sendo o padrão a não ser seguido.
Mas o personagem de Eastwood não ficou apenas na trilogia dos dólares. Estendeu-se por outros filmes do gênero como A Marca da Forca (Hang 'Em High, 1968) e Os Abutres Tem Fome (Two Mules for Sister Sara, 1970) até chegar a O Estranho Sem Nome (High Plains Drifter, 1973), atingindo neste o seu ápice de ausência de condutas morais. Eastwood demonstra o potencial dessa figura de modo brilhante (não tão brilhante como Leone fez), expondo todos os podres de seu personagem, tornando-o um anti-herói repugnante, mas de atrativos cinematográficos grandiosos para o western.
De argumento simples e básico, o filme se inicia com um homem estranho chegando a uma pequena vila, onde em poucos minutos pós sua chegada o estranho mata três moradores que tentavam fazer o mesmo com o recém-chegado (os motivos não são explicados com clareza ao publico). Percebendo a qualidade do homem com armas, as autoridades locais propõem para que o estranho proteja a vila de um grupo de bandidos recém-libertos. Aproveitando-se da proposta, o estranho faz o que quer da vila e de seus moradores.
É mais do que óbvio que o personagem de Eastwood é o grande atrativo do filme. Seus conceitos morais nos impulsionam a querer saber mais sobre o personagem e sua imprevisibilidade provoca cenas em que ficamos perplexos diante de tal. O filme ainda conta com vários flashbacks – uma das marcas mais comuns do faroeste italiano -, que cria uma mística em torno do passado do personagem, que resultam em tamanha curiosidade do espectador. Concluindo meu comentário sobre o personagem “o estranho”, percebe-se uma imensa semelhança com o personagem “Joe” de Killer Joe – Matador de Aluguel (Killer Joe, 2011), de William Friedkin, levando muitas das características do personagem de Eastwood, pode ate ser coincidência, mas chama a atenção pelo caráter.
O filme carrega sobre si uma imensa carga de adrenalina, culminando em um clímax extraordinário de tensão, fruto de um belo trabalho realizado por Eastwood na direção. O modo de filmagem à italiana, seguindo exemplares de Leone, não com a mesma qualidade, mas os planos sequenciais e outras características semelhantes. Projeta sempre a imagem buscando o maior impacto de violência. Eastwood falha em alguns momentos – ele já era um ator veterano, mas um iniciante como diretor -, algumas filmagens ficaram irregulares e o ângulo fica de difícil compreensão. Em alguns momentos a violência gratuita é percebida, e o filme é focado exageradamente no personagem principal, tentando evitar tramas paralelas que possam prejudicar o desenvolvimento do filme.
Mas ao final do filme, o resultado agrada. Seria apenas uma introdução do que estava por vir nos seguintes westerns dirigidos por Eastwood, como o excelente Josey Wales – O Fora da Lei (Out Law Josey Wales, 1976) e posteriormente no último filme do cineasta no gênero que o consagrou, Os Imperdoáveis (Unforgiven, 1992), o melhor filme da brilhante carreira de Clint Eastwood. Portanto é sempre bom acompanhar os trabalhos de câmera do diretor.
Deixando de lado a \"Trilogia dos Dólares\" gosto muito de \"Joe Kidd\" e \"Josey Wales - Outlaw\" com o EastWood praticamente repetindo o papel de \"Estranho\". Concordo com você Alexandre um dos maiores chamarizes do filme sem dúvida é o personagem principal, a dúvida e curiosidade em relação a sua origem move e nos prega na cadeira ansiosos pelo final da película e depois vemos que meio que não tem final... Nota 8.5!
Ótimo texto, Alexandre.
O filme bebe diretamente da fonte de Leone, chegando a parecer uma continuação indireta da Trilogia dos Dólares.
Um ótimo e pouco comentado é o clássico realizado já em tempos das vacas magras do western (bem mais que O Estranho Sem Nome) O Cavaleiro Solitário.