“Acho que essa é minha obra-prima”
O contexto histórico sobre a Segunda Guerra Mundial vem sendo amplamente explorado por vários cineastas de renome dentre as últimas décadas. O Pianista (The Pianist, 2002) e A Lista de Shindler (The Shindler’s List, 1993) são exemplos de como essa temática é introduzida em tela, buscando o maior nível de dramaticidade possível. Porem a criatividade de Quentin Tarantino não se limita a simples fatos históricos. Tendo visão ideológica constantemente ligada ao seu egocentrismo, a ausência de humildade faz surgir um roteiro que abandona completamente a veracidade dos fatos, entrando no mundo de Tarantino.
Os “Bastardos” é um grupo de americanos judeus, comandado pelo Tenente Aldo Raine (Brad Pitt), com um ambicioso plano de eliminar todos os líderes do Terceiro Reich de Hitler. O destino os unem à Shosanna (Mélanie Laurent), vítima da barbárie nazista, que se refugiou na França durante a ocupação alemã. Cada qual tem seu grande plano de vingança. O coronel nazista Hans Landa (interpretado por Christoph Waltz em atuação indescritível) responsável por assassinar a família de Shosanna, tentará impedir os “Sacanas Sem Lei” (modo como nossos colonizadores, irrisoriamente, traduziu o título do filme).
Em Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds, 2009) Tarantino atinge o seu ápice de arrogância. A frase que encerra o filme sintetiza perfeitamente isso. O que faz um cineasta consagrado terminar um filme dizendo ao público que aquele ao qual acabaram de presenciar é sua "Obra-prima"? Pura e nítida arrogância (e ousadia). Entretanto, é algo que apenas quem sabe o que faz é capaz de dizer. O que seria de Quentin Tarantino sem sua arrogância? Com humildade? Apenas um cineasta comum dentre os vários de Hollywood. O entusiasmo do diretor com o próprio trabalho o faz atingir momentos de puro deleite. Esse é o diferencial de seus filmes. Bastardos Inglórios não é a obra-prima de Tarantino. É evidente. Mas é um trabalho excepcional, prova mais uma vez que o estilo único deste cineasta é admirável, e devemos reconhecer isso.
Bastardos Inglórios é cinema de alto nível. Poucos diretores conseguem tornar cenas sobrecarregadas de diálogos tão prazerosas - a cena inicial exemplifica de forma exata. Quentin Tarantino faz isso como ninguém faz no cinema contemporâneo. Trazendo um roteiro que, por vezes, tropeça nos próprios pés, pela soberba “tarantinesca” – o próprio considerou-o o seu melhor script, ao qual foi escrito antes mesmo da realização de Kill Bill – Vol. 01 (Idem, 2003) - , mas que prende a cada segundo que se passa, com cenas categoricamente montadas, de forma lenta, chegando a lembrar o modo como Sergio Leone tratava cada plano, cautelosamente, buscando a perfeição.
Por fim, poderá ser esta realmente a obra-prima de Quentin Tarantino? Não. Pulp Fiction – Tempo de Violência (Pulp Fiction, 1994) é inquestionavelmente o melhor filme deste cineasta. Porém, a sofisticação técnica não nos deixa negar que este possui um estilo robusto comparado à outros trabalhos do cineasta. O cinema agradece. Garante um filme ousado, de violência gráfica costumeira, de humor negro caprichado... Resumindo, um filme com o selo Quentin Tarantino de qualidade.
acho que o cometário ficou muito focado na tal \'\'arrogância\'\' do diretor e deixou o filme de lado😏
Pois é Ravel, até msm eu achei isso. Eu até cheguei a desistir de escrever esse texto por falta de ideia mesmo, decidi termina-lo e o que de mais interessante achei foi falar do proprio Tarantino... Acho que preciso rever o filme.
Eu já gostei do texto.
Também gostei do texto. Não sei se o egocentrismo do Taranta se resume apenas à sua arrogância, mas o cara é um gênio.