Enigmático, Complexo e Colossal
Odiado por uns, amado e louvado por outros. Quando se trata de Stanley Kubrick as opiniões não são poucas. Ergueu seu nome como um dos maiores diretores da história com filmes alvos de forte censura e divisor de opiniões entre os mais renomados críticos da época. Mas esse é Kubrick, um gênio de mente doentia e perfeccionista, capaz de intrigar até mesmo os grandes filósofos e estudiosos com seus filmes sempre esotéricos. Mas o fato é que não há errado ou certo em seus filmes. A genialidade de Kubrick faz com que o espectador possa criar qualquer teoria em torno de seus filmes, mas a incerteza será eterna. 2001: Uma Odisseia no Espaço é como a mente de Kubrick: enigmático, misterioso, inexplicável e incompreensível. Kubrick é daqueles diretores em que não é possível apontar sua melhor obra. Tem uma vasta coleção de obras-primas, mas o seu filme em que toda a sua genialidade é posta em prática é 2001, sendo a obra mais completa do diretor, em que toda a sua complexidade é introduzida perfeitamente, adentrando em um universo inimaginável para uma época em que a tecnologia usava fraldas e engatinhava.
Abordando desde a evolução do homem na pré-história o filme foca, especialmente, no tema “o homem e suas ferramentas”. Contextualizando toda a necessidade do ser humano que, com o avanço tecnológico, torna-se refém das sua próprias ferramentas, perdendo o controle sobre tais e se vendo dominado pelas mesmas. Toda essa perda de controle é exposta através de HAL 9000, o computador mais avançado feito pelo homem, sendo o cérebro da nave Discovery One, que é enviada para investigar um intrigante monólito que viajou por milhões de anos no espaço. Contudo, vendo a hipótese de ser desativado por um erro cometido, HAL 9000 mata vários tripulantes da nave, o que culmina em uma série de acontecimentos labirintados, até Kubrick nos apresentar mais uma indagação inaccessível: o homem frente a frente com a própria morte.
Nesse universo inexorável e complexo que somos expostos em 2001, portanto não se sinta indolente se não entender absolutamente nada do filme. Kubrick traz, ao lado de Arthur C. Clarke, um roteiro lapidado em detalhes constituídos de uma sensível subjetividade sobre temas e questões que martelam a cabeça do ser humano por milhões de anos. Portanto 2001 trata-se de um estudo do ser humano, desde o seu alvorecer até os dias mais remotos, trabalhando em um aprofundamento sobre as constantes ligações do homem com suas necessidades de facilitar a própria vida. As primeiras sequencias do filme mostram o avanço do que na teoria seriam os “homo sapiens”, em que, por acaso ou por avanço intelectual descobre a sua capacidade de criar objetos úteis para si mesmo, e sutilmente Kubrick faz uma transição maravilhosa para o futuro, demonstrando o quanto o homem evoluiu juntamente com suas ferramentas. Porém, de forma mais sutil ainda, Kubrick expõe o fato de que é possível alcançar o universo, mas dominá-lo é outra história: uma simples caneta conduzida pela gravidade espacial. Ao alcançar o universo o homem deverá reaprender a andar, a respirar, a dominar suas ferramentas, das quais perde o controle quase que integralmente fora de sua órbita habitual. De modo enredado Kubrick “diz”: o homem é um objeto do espaço.
Não livre de imperfeições, o filme sofre com certa falta de ritmo em determinados momentos, tornando um experiência cansativa para alguns. Longas cenas, completamente ausentes de diálogos, dão essa sensação. Mas as pretensões de Kubrick propiciaram isso. O lento desenvolvimento é uma duradoura retratação do universo infinito, que torna-o constantemente denso. Esse fragmentos, constituídos de um misticismo feroz, traz total relevância para uma melhor compreensão, em que qualquer detalhe que possa propôr algo insignificante, conduz um enigma ou uma instrução, pois é um filme inteiramente codificado, erudito, “Kubrickiano”. Portanto a sensação de que o filme é chato é apenas resultante de uma busca pelo plano perfeito, o que torna as cenas mais lentas do que normalmente seriam.
Repleto de sequencias incomuns, abarrotado com belos planos completados pela clássica trilha sonora, tendo efeitos visuais muito à frente de sua época, o filme é poético, filosófico, inspirador, tenta buscar respostas para perguntas que nunca deveriam ser feitas, ou perguntas com respostas além do intelecto humano. O filme penetra no vácuo, onde Kubrick ronda lugares que apenas o cinema é capaz de investigar: o universo. Não que seja incompreensível, mas jamais uma teoria criada em torno do filme se converterá em fato. Talvez porque não há certo ou errado, o próprio Kubrick recusou-se a dizer o significado do filme, alegando que todos são livres para criar a própria teoria e concepção. Desse modo entro na lista dos que se recusam a tentar buscar uma resposta para os fatos e cenas mais intrigantes do filme, como o significado do monólito e do bebê cósmico. Contudo o significado de tais coisas aparentam estar ao nosso alcance, ao sermos os contemporâneos e alvos do avanço tecnológico em que Kubrick tenta, de certo modo, alertar sobre os perigos, que parecem eminentes. As diversas interpretações da obra são apenas um estigma de que 2001: Uma Odisséia no Espaço será um filme eternamente ambíguo.
Um texto que não economiza nos adjetivos pra um filme que não me pegou como à maioria.
Concordo com alguns pontos levantados, especialmente no penúltimo parágrafo.
Parabéns, Alexandre!
O que mais me impressiona nesse filme é sua complexidade. Me intriga mesmo apos varias revisões, acho um filme brilhante, realmente hå um excesso de adjetivos, mas foi a melhor forma de expressar a genialidade ali presente, já que não me atrevo a buscar uma explicação certa para o filme. Kubrick em sua melhor forma. E obrigado Patrick.