Mesmo que evoque alguns lugares comuns (doença terminal, personagem traumatizado pela guerra, amizade que remete a um passado em comum), é como ver Almodóvar executar um filme biográfico sobre o fim, a iminência do luto. O que seria exatamente entregar-se a morte?
Enquanto Woody Allen soa redundante filmando típicos temas, em francês, Almodóvar filma em inglês com um texto muito mastigado, mas ainda assim poderoso, e também aglutinando muito de sua filmografia precedente.
Eu particularmente fico um pouco incomodado com a trilha, poderia ser um filme mais silencioso, mas estamos falando de um filme síntese do Almodóvar. Muitas vezes via a personagem falar pelo diretor, nessa dor da partida, e de cabeça erguida.
Não sei até que ponto faltou melodrama aí, mas o choro da Moore traduz muito bem aquilo que é inescapável. Ou como diz um personagem, a arte como redenção, mas nem sempre: poetas podem falar sobre árvores , e ainda assim estamos à beira de um abismo ambiental, assim como cineastas falarão sobre a morte, sem domá-la.
O recorte é certeiro. Há dor, há espaços para escapamos, há humanidade, autorreferência, seres humanos brigando consigo, mas oportunizando o outro estar "na porta ao lado".
Acrescenta-se a isso sua visão sobre o neoliberalismo e a extrema-direita, que mesmo contribuindo contra a esperança, é incapaz de apagar a vida. Há poesia, frescor, sexo, até mesmo em cenários de guerra.
Com muita objetividade, Almodóvar assina um filme chave, um filme síntese. É muito satisfatório ver esse cineasta espanhol produzir uma obra desse quilate a esta altura de sua já consagrada carreira.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário