A Avenida Beira-mar é uma região localizada na cidade do Rio de Janeiro, reduto de classe média em decadência, espaço que está no limiar dos espaços mais suburbanos, próximos de favelas, ou seja, é um lugar que é feito para se diferenciar aqueles que pretendem morar bem e próximo da praia, numa região quase periférica.
O filme, então se concentra numa família monoparental, o pai ausente (em determinado momento a filha fala que o pai morreu), com uma condição de vida a baixo da média daquele espaço, mas condizente com sua realidade.
Toda essa construção imagética das condições de vida dos personagens servem para justificar um espaço dinâmico, em construção, cujas fronteiras representarão um perigo iminente ao entorno, seja da vizinhança, seja de como a própria família se vê.
Essa geografia, claro, vai justificar o estranhamento a certos corpos, e é nesse contexto que aparece a jovem trans, como algo marginalizado, perigoso, indesejável.
Não sei se o roteiro acerta na apresentação dos personagens, mas tudo bem, é eficiente. Agora certamente os choques transfóbicos estão em tom bem caricatural, ainda que não seja nada fantasioso. A Irene Ravache faz uma mãe que ainda não sabe lidar com a transição da filha, cujo texto não ajuda, mas o talento da atriz segura as pontas. Quanto á Andréa Beltrão, simplesmente fantástica em cena.
No final das contas, é um filme sobre amizade, e esse refúgio de laços comunitários numa sociedade que pretende subir muros (literalmente, no filme) é algo bem bonito de se ver, e o roteiro se aproveita desse laço mágico e entrega cenas muito líricas sobre a amizade das meninas. No final, o saldo é positivo.
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