"Malcom X" (disponível no Mubi/Looke), uma obra-prima do Spike Lee, é daqueles filmes necessários para se compreender a história do povo preto pós-escravidão, cujo tema se imiscui a outras identidades importantes, notadamente a masculinidade, a religião e a política.

Denzel Washington pode ser visto interpretando o ambicioso traficante Macrinus, cujo lobby na politica romana vai exigir do veterano imensa versatilidade na atuação, seja pela sua ambição e pela busca por poder, seja pelo desejo subversivo e refinado aos gladiadores. Em "Malcom X", Denzel também garante uma imersão impressionante do personagem, desde sua fase "alienada" às questões políticas em que crescera, até a fase em que irá desabrochar para as questões mais urgentes do povo afro-americano, misturando valores religiosos e ainda uma influência patriarcal do homem negro.

Com tanta referência e temas importantes, o filme consegue equilibrar bem e contar a sua história sem se perder, mostrando um homem multifacetado (incluindo defeitos). Esta composição de personagem tem uma construção muito orgânica e coesa, baseada na autobiografia do Malcom mas também conta com o olhar sempre certeiro do diretor Spike Lee, e participações mega especiais, como do Bobby Seale (cofundador dos Panteras Negras) e de Nelson Mandela.

Liderando a "Nação do Islã", Malcom reúne tudo aquilo que causa frio na espinha do conservadorismo americano: a negritude, o islamismo, o discurso afrontoso e irascível (muitos apontariam o contraste com Martin Luther King, eu diria que são formas complementares de resistência). E quando esse discurso vai pelo campo político e da economia, amplificando seu ruído, sua vida seguirá em estado de alerta, com um Denzel Washington entregando toda essa atmosfera pelo simples olhar, em pequenos detalhes.