Se em "Close" temos a autodescoberta de meninos com certo afeto (não necessariamente gays), aqui a letra "T" é muito mais evidente, numa ambientação familiar de pura sensibilidade que lembra o tocante "Tótem".
Impressiona o que Estibaliz Urresola Solaguren fez com a protagonista interpretada por Sofía Otero, num grau de complexidade absurda, sentimos suas dores e conflitos. Interessante que não adianta apenas ter uma mãe mais acolhedora (que foi o caso aqui, num interessante roteiro que não apela facilmente para a "não aceitação" parental, como o caso dos demais familiares que, apesar de certa resistência e preconceito, vão aprendendo a lidar). Em certos momentos, vemos que a criança fará birra mesmo, pois aqui a aceitação é muito mais interna e profunda.
Algumas falas dão um nó na garganta, quando a protagonista tenta entender-se em momentos onde o roteiro explicita aos expectadores o conflito psicológico da personagem. É até mastigado demais em certos momentos. No entanto, o filme também conta com passagens mais intimistas, facilitadas pela paisagem bucólica ao redor, o que confere menos caos do que o ambiente urbano, mas algo muito mais claustrofóbico.
Como o filme tenta fugir do sensacionalismo, mesmo quando o pai retorna aquele ambiente, a sensação de imersão e naturalidade impera pelo longa. Não é um filme fácil, e acredito que há uma série de gatilhos para pessoas trans. mas é um retrato altamente necessário, por mais que tenha alguns problemas de ritmo, é um dos melhores filmes a retratar a puberdade de jovens trans, e a metáfora com a diversidade de abelhas ficou delicada demais, impossível menosprezar. Grande trabalho.
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