Clint ainda consegue fazer cinema com dilemas reais, confrontando o típico cidadão americano com seus aparelhos ideológicos e com a própria consciência. Mais um filme-síntese, a exemplo do que ocorrera este ano com Allen ("Golpe de sorte em Paris), Almodóvar ("Um quarto ao lado"), cujas temáticas de seus respectivos filmes são condizentes com grande parte de suas filmografias pretéritas. Clint, assim, volta o olhar para um personagem degenerado que busca, de certa forma, se superar ou manter-se longe de problemas, como em "Cry Macho", "A mula", "Menina de ouro", só para ficar nos do século XXI.

Cabe ao Nicholas Hoult ser o jurado nº2 em mais um filme de tribunal. Mas dessa vez, tudo está claro ao espectador: quem é culpado e quem é inocente já se sabe desde o primeiro ato da obra. E aqui entra a competência do roteiro e da direção, em se preocupar em como os personagens lidam com isso, sejam os jurados, promotores, juiz, a família em volta. É um filme para estudo de efeitos psicológicos, como culpa, ego, e tudo isso interferindo em suas respectivas posições sociais,

Ainda que os diálogos nas reuniões com os jurados não cheguem ao nível de "12 homens e uma sentença", já que o trabalho de Sydney Lumet tem um equlíbrio maior entre seus personagens com uma riqueza de detalhes muito mais robusta, aqui, em que pese a economia de elementos, tudo está muito coerente, com o epicentro sendo mesmo a história desse jurado que, de forma quase trágica, também tem envolvimento com o crime: sem detalhes para não dar spoiler, mas impressiona a segurança e capacidade desse entrelaçamento ser natural e condizente com os desdobramentos apresentados.

Tudo isso faz de "Jurado nº 2" um grande filme, de um grande cineasta vivo, com muita segurança dos estados emocionais que deseja mostrar, dos espaços de locação, das personalidades das peças chaves do crime, sem deixar de conferir críticas às instituições da justiça e da base burocrática do Estado, que insistem em racionalizar procedimentos lotados de pessoalidade. Filmaço.