Não tem como não gostar de um filme correto e é justamente isso que esse filme se propõe. Baseado em uma história real sobre a amizade de duas amigas, uma boleira nata, enquanto outra uma jovem simpática e extrovertida, ambas dividem a moradia enquanto trabalham e buscam suas qualificações profissionais, até que uma delas recebe o repentino diagnóstico do câncer.
Acredito que há muitos méritos aqui, desde a edição que não fez com que o filme perdesse o ritmo, mesmo nas partes mais intimistas e dramáticas, até mesmo da produção caprichada dos figurinos, nos detalhes dos bolos e os efeitos e designs diferentes para acompanharmos a jornada, até mesmo a esperta trilha.
Um momento muito bonito do filme é no karaokê, que embora seja um padrão bem clichê nos filmes do gênero, as meninas se falaram com um olhar, e realmente a química entre elas é muito grande, botando no chinelo muitos casais de filme de romance (embora seja possível criar expectativas nesse sentido aqui, mas de fato é um filme sobre amizades).
Outra coisa que muito me agradou é que apesar de uma ou outra derrapada nos diálogos, em especial dos personagens secundários (muito mal aproveitados, inclusive), é nítido o esforço em humanizá-las, e de fato é interessante ver como o roteiro não esconde a limitação material delas, a construção profissional. Nesse sentido me lembrou também o simpático "Namoro ou liberdade" com Zac Efron, na mesma pegada porém com enfoque masculino: são filmes indies, escapistas, mas que preservam uma base material de seus personagens em construção, de uma adolescência meio que tardia em busca de um posicionamento do mercado, ao mesmo tempo em que discutem seus relacionamentos já típicos de uma sociedade líquida.
As partes com o câncer poderiam até ser mais didáticas, não entrou em detalhes da doença e do tratamento, mas também conferiu um peso que fugiu ao melodrama barato, e com esse tom empregado o filme cria um aspecto de dignidade sem ser apelativo, o que é muito bom, afinal ninguém aguenta mais filmes tão melosos quanto "A hora da estrela" ou "A cinco passos de você".
Embora o peso das atuações tenha méritos, a produção realmente está de parabéns, edição ágil e cortes de câmera no timing, além do trabalho em conjunto das meninas que provou, a cada take uma ligação abissal à trama. Trish Sie, a diretora, consegue um excelente resultado aqui. Por exemplo, veja-se a cena em que as protagonistas discutem na rua, nas mãos de outra direção tinha tudo para ser o mais piegas possível, mas aqui está visceral, as palavras contidas, o sentimento que ambas perpassam, uma demonstrando cuidado e zelo, sabendo que a doença da amiga é devastadora, a outra querendo viver e tornar tudo mais lírico e menos pesado do que de fato é, então, há uma confluência para resgatar em cada diálogo a personalidade de ambas, nada soa absolutamente gratuito.
Um ótimo filme para passar o tempo, mas também para se emocionar. Embora não apresente nada de revolucionário, é um filme que facilmente pode levar às lágrimas, e o fato de ser baseado em fatos reais deixa a experiência melhor ou mais emocionante ainda.
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