O primeiro filme de Daniel Kaluuya é extremamente satisfatório e convicnente, narrando um cenário meio distópico (mas nem tanto) onde se exacerba a desigualdade social e o modo de vida em guetos, tranquilamente inspirado nas favelizações das grandes cidades, conduzida por uma trama onde um garoto órfão irá buscar um fio de esperança de pertencimento e reencontro, com seus pares, num ambiente bem inóspito.

"The kitchen" é essa espécie de cortiço, mas onde as pessoas são majoritariamente pretas. É lá que mora o solitário Izi (Kane Robinson), em vias de mudar daquele lugar inseguro, onde ocorrem frequentes (e injustas) batidas policiais gratuitas (aliás, essa forçada para a polícia de fato ficou bem gratuita mesmo). O rapaz se sai muito bem no papel, com aquele olhar desolador. Ele trabalha numa espécie de funerária do futuro, que dialoga ironicamente com o movimento sobre sustentabilidade liberal (as pessoas morrem e podem virar árvore). É lá que Izi irá se deparar com o menino que acabara de perder a mãe, o doce Benji (Jedaiah Bannerman).

Gosto bastante da atuação dos dois, que tem a vida cruzada e apenas buscam meios para sobreviver. O cenário do "The kitchen" também está muito bem caracterizado. Infelizmente o roteiro derrapa ao apresentar os personagens secundários e a criar clímax redundante com as batidas policiais (que servem apenas para criar correrias desnecessárias). Claro que os moradores dos guetos têm na figura policial um típico poder repressor do Estado, mas aqui é meio maniqueísta esse uso (tão logo fechem a porta, a polícia não perturba mais). É meio risível até.

Há também algumas passagens letárgicas, que jogam contra o ritmo da trama, contribuindo para se estender mais do que o necessário. O final também não impressiona, embora seja acalentador.

Enfim, é um filme bonito, conta com uma boa produção de arte para garantir a imersão, e que revela certo domínio de Kaluuya em narrar sua história, marcada pela sua identidade preta, e ele ainda faz um apequena participação no longa. Vale a conferida.