Depois do ótimo “Minha mãe é uma peça”, eis que surge nas salas tupiniquins mais um exemplar de nossa tão famigerada comédia-pipoca. O filme “O concurso” realmente não inova, em muitos momentos não tem timing, perde o ritmo, e acaba tendo um final frustrante. No entanto, acredito que sua boa premissa e o elenco carismático possam salvar e garantir boas risadas.
O filme conta a história de quatro candidatos finalistas ao cargo de Juiz Federal na vara do Rio de janeiro. Eles não se conhecem, mas têm seus destinos traçados às vésperas do exame final. Caio (Danton Melo) é o trambiqueiro do grupo, o carioca, o responsável por conduzir as ações dos outros três, já que ele conhece a cidade e acaba por envolvê-los em uma série de situações (entrelaçadas a traficantes, bares, mulheres). Rogério Carlos (Fábio Porchat) é o gaúcho trans, filho de pai conservador. Bernardo (Rodrigo Pandolfo) é o nerd de uma pequena cidade interiorana, que acaba por vivenciar uma engraçada reviravolta (ainda que totalmente previsível, mas bem executada). E o mais insosso do grupo, Freitas (Rodrigo Pandolfo), encarna o personagem mais padrão, devoto de vários santos e apegado a crendices, que sonha num futuro melhor para a mulher e para o filho que vai nascer.
A semelhança com “Se beber não case” é vista logo de cara: os quatro amigos se envolvem em altas confusões à véspera de um momento decisivo, e o filme já começa os apresentado no dia da prova, para então voltar no tempo e contar como chegaram a tal situação. O barato do roteiro (especialmente pra quem é concurseiro nato, como a pessoa que escreve tal crítica), é poder rir e ironizar da tensão que é um concurso público; quem se dedica sabe muito bem como é que funciona. Além disso, o roteiro equilibra muito bem os quatro personagens, todos têm seu devido espaço, todos têm suas histórias, particularidades, trejeitos. Ponto positivo pro filme.
Mas nem tudo são flores. A projeção realmente perde o ritmo no seu terço final, e o clímax é péssimo, soa moralista. Aliás, a comédia é bem comportada, feita para agradar todos os públicos. A transexualidade é abordada de forma higiênica, bem como os momentos mais picantes. Destaque, neste, para a Sabrina Sato, não por ser boa atriz, mas por dar conta do recado. Excesso de estereótipos também podem atrapalhar os desavisados, como anões, travestis, negros, funkeiros. Mas fazer uma comédia voltada para o povão, em plena cidade maravilhosa, sem usar esses “tipos” parece ser um grande desafio. No mais, pelo menos a abordagem não foi em nenhum momento vexaminosa.
Não é um filme para ficar na memória. No entanto, o cinema nacional tem comédias muito ruins, a exemplo de “Os penetras”, o que torna este daqui um tanto quanto mediano. No mais, vale como diversão passageira. Alguns exigentes podem reclamar com o fato de que candidatos a juiz federal, no Brasil, jamais seriam tal e qual mostrado em tela. Sim, eles têm razão. Aí cabe a pergunta: e quem são os verdadeiros concurseiros a vagas consideradas de alto nível? Certamente são pessoas heterogêneas, ainda que os fortes concorrentes sejam dedicados e talvez mais serenos. E, acredito, passar a ideia de concurseiros como pessoas diversificadas, diferentes, multifacetadas, acaba sendo demasiadamente satisfatório.
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