Tom Cruise e Keanu Reeves que me desculpem, mas o filme do ano em ação para mim é "O sequestro do voo 375", que além de ter cenas espetaculares no avião (o que foi aquela reprodução da manobra mais arriscada que o piloto fez?), ainda começa com imagens documentais a respeito da situação política do país, entregando muito mais do que entretenimento, um pequeno retrato da nossa história.
Com o clima de inflação galopante e o descontentamento com a classe política (aqui representada pela figura do Sarney), não será difícil desenhar os objetivos do sequestrador, que agira sozinho numa loucura de sequestrar um avião da VASP num tempo onde medidas de segurança eram frouxas demais (inclusive esse fato foi o vetor para maiores medidas).
Há algumas coisas que me incomodaram aqui, como a necessidade piegas de estreitar laços familiares afim de fortalecer o drama (talvez herdado dos enlatados de Holywood) e o nível dos diálogos, filmes como "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite" já mostraram que podem ser bem mais naturais.
Mas os problemas são muito pequenos para toda a condução e produção espetaculares que o filme mostrou. As cenas de suspense estão fantásticas, você realmente se sente preso naquele avião, não devendo em nada em produções gringas que abordam o tema. Inclusive, esse ano temos o filme "Plane" vivido por Gerard Butler, e convenhamos, a produção brasileira se sai muito melhor, muito mais tensa.
O diretor Marcus Baldini é o mesmo de Bruna Surfistinha, e os problemas de ritmo do seu filme mais conhecido foram todos corrigidos aqui, a edição é primorosa e você nem sente o tempo passar. E olha que tinha uma cilada aí, pois depois do pouso do avião, ou seja, após as cenas mais viscerais no ar, o filme teria que se sustentar na presença dos atores, seja do comandante vivido por Danilo Grangheia, muito bem por sinal, ou do sequestrador vivido por Jorge Paz. Amos conseguem uma performance que mantém a tensão, além claro do elenco de coadjuvantes, a tripulação, os negociadores etc.
Infelizmente o núcleo da polícia e dos políticos ficou muito aquém do núcleo principal, com diálogos terríveis aqui. Ainda assim, é um filme que brilhantemente funciona em seu aspecto técnico, com cenas que conseguem ser realistas e passar a tensão. Cinema nacional com muito orgulho, com muita qualidade, e ver em tela grande certamente proporciona uma experiência diferenciada.
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