Existem três características importantíssimas para o filme biográfico musical funcionar que funcionam muito bem aqui: o recorte da trama; a caracterização do biografado; a organicidade das músicas ao enredo. "Back to black" é filmado com burocracia e sem inspiração, mas consegue se sair muito bem no essencial.
Além da protagonista Marisa Abela estar estupenda no papel, inclusive com evoluções no visual e na postural que soaram bastante natural, seu par romântico o namorado interpretado pelo excelente Jack O'Connel garante a tensão sexual que segura as pontas de um roteiro absolutamente clichê: o amor desguiado, a pressão entre a vida pessoal e artística da cantora, as drogas como ruína.
Alguns fãs reclamaram de como o pai foi retratado de forma bem benevolente, já que supostamente mantinha uma relação de exploração e pressão com a filha. Eu particularmente não conheço nada da vida dela para opinar, e o que vi foi um pai que, de fato, era um suporte equilibrado ali, provavelmente, na vida real, fora bem diferente disso mesmo.
Senti falta do processo de criação das músicas: por mais que o filme deixe explicado que a Amy viveu muito de suas letras, à exceção duma cena inicial, não lembro a moça em nenhum take com um lápis e um caderno na mão, de modo que tão logo os acontecimentos apareciam ( o luto, por exemplo) alguma música surgia como pano de fundo. Isso tira um pouco a naturalidade do vivido, mas ao mesmo tempo é um bom trabalho de como se confundia vida e obra.
Também achei, e não é culpa somente deste, que o filme forçou um ápice musical com "Rehab". Desde "Bohemia", aprece que se tornou algo estritamente necessário uma encenação final. Mas ao menos aqui se sai menos pior do que em filmes como os da "Whitney Houston". Ainda assim, lembro (esse sim está na memória) do seu último show, completamente desorientada e drogada, e o filme não trouxe isso à tona.
Em resumo, é uma biografia higienizada, facilitada pelo recorte certeiro de uma carreira que acabou bem cedo e de uma protagonista forte, com um par romântico que realmente funcionou em tela, do momento do encanto à ruína. Faz o básico e consegue, assim, entreter, mesmo com várias críticas à veracidade dos fatos. Ainda bem que cinema não necessariamente precisa ter compromisso com isso, muito embora, para uma biografia, isso de fato pode soar como defeito e concorrer contra a experiência pretendida.
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