A violência humana tem sido, desde tempos imemoriais, uma constante da nossa história. Desde guerras, genocídios e opressões até pequenas agressões cotidianas, a capacidade humana para a destruição mútua levanta questões inquietantes sobre nossa própria natureza e sobre o que nos diferencia, verdadeiramente, dos outros animais.
E aqui temos a hitória real de Bobby e Jim, interpretados de forma muito eficiente por Jacob e Zachary Quinto, com uma direção charmosa de Jefrfrey Darling. Ao se encontrarem ao acaso na estrada, Bobby vai pegar carona com ele e não tarda para lhe sacar uma arma, como que em uma vilência banalizada. E o filme vai se firmando numa road trip onde há mortes, situações de tensão sexual, e tudo acompanhada de mais um terceiro elmento: o chuimpanzé treinado pelo Jim.
Um dos contrastes mais frequentes que usamos para nos entender é a comparação com os chimpanzés, nossos parentes genéticos mais próximos, que também manifestam comportamentos violentos em seus grupos sociais. Mas até que ponto essa comparação sustenta a nossa suposta superioridade no quesito evolutivo? Os chimpanzés, por exemplo, também entram em conflitos territoriais, cometem homicídios dentro de seus grupos e exibem hierarquias baseadas na força bruta. No entanto, a violência entre eles parece ser motivada por impulsos diretos de sobrevivência e preservação do grupo. Já a violência humana, embora muitas vezes tenha raízes semelhantes, foi elevada a um nível quase abstrato, servindo a ideologias, conceitos de poder, e narrativas de controle social e cultural.
Bobby é o humano errante dessa condição pós-moderna, vagando a ermo. Nós, humanos, criamos guerras por fronteiras invisíveis, por diferenças religiosas e ideológicas que, em última análise, só existem porque as inventamos. Mas o filme trás a violência da camada micro, como impulsos machistas, inseguranças, ou o próprio prazer psicótico em ter o poder de tirar a vida de outrem.
Sartre, o filósofo existencialista, argumentava que "o homem está condenado a ser livre". Essa liberdade significa que temos de dar sentido à nossa própria existência, o que pode ser tanto um fardo quanto uma bênção. É nesse espaço de liberdade radical que nossa violência assume uma dimensão diferente da dos chimpanzés. Interessante a cena quando Jim tenta sugerir que "damos liberdade" ao chimpanzé, ou se o animal continuará sendo um artista domado. É possível falar aqui em liberdade? Aliás, é possível falar em liberdade para nós, humanos?
Enquanto eles agem por instinto, nós temos a capacidade de refletir sobre nossas ações e, ainda assim, continuamos a escolher a violência. Sartre diria que isso é um reflexo da angústia existencial que acompanha a nossa liberdade, uma tentativa de preencher o vazio de significado com ações que, muitas vezes, se revelam destrutivas.
Ao questionar se somos, de fato, superiores aos chimpanzés, uma análise filosófica nos leva a ponderar o que significa ser "superior". Se nossa capacidade de criar sistemas complexos, como a moralidade e a ética, nos torna superiores, por que então tantas vezes falhamos em viver de acordo com esses princípios? Enquanto os chimpanzés matam por necessidade imediata, nós criamos armas de destruição em massa, projetamos ideologias que justificam a violência em larga escala e, paradoxalmente, ao mesmo tempo, proclamamos a paz e a igualdade como valores fundamentais.
Talvez a verdadeira diferença entre humanos e chimpanzés não seja a inteligência ou a civilização, mas a consciência de nossa própria violência e o desconforto que ela nos causa. Como Sartre sugeriu, estamos sempre fugindo dessa angústia, criando histórias e explicações para justificar nossas ações, seja em nome de um Deus, de uma pátria ou de uma ideia. Os chimpanzés, em sua simplicidade brutal, não precisam dessas justificações.
Então, somos superiores? Ou simplesmente mais complexos, mais angustiados, e, portanto, mais perigosos para nós mesmos e para o mundo? No final, o que nos distingue dos chimpanzés pode não ser nossa capacidade de amar, criar e pensar, mas o fardo que carregamos de ter que lidar com as consequências de nossa própria liberdade e da violência que dela advém. Se há algo em que somos verdadeiramente únicos, talvez seja em nossa incessante busca por significado em meio ao caos que nós mesmos criamos.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário