Experiência tão paranoica, intensa e alegórica quanto Possession, do Zulawski, só Mulholland Drive, do Lynch, feito 20 anos depois. Repleto de simbolismos e nuances, Possession é uma jornada insana e kafkiana dentro de um casamento em crise. Começa sem rodeios, nos inserindo nas discussões homéricas entre o jovem casal burguês Isabelle Adjani e Sam Neill (ambos incríveis) e depois nos joga em situações aparentemente sem sentido, envoltas por um ar medonho de mistério e horror.
Toda a atmosfera caótica, contrastando com as ruas desertas de Berlim; o clima crescente de tensão psicológica; os personagens em permanente estado de conflito e loucura; as cores; os movimentos de câmera subjetivos e nervosos; a falta de sentido até o juntar das peças: nem os delírios mais sombrios do Cronenberg combinados com os piores pesadelos do Lynch dariam conta dessa surrealista, sinistra, onírica, esquizofrênica e por vezes poética maravilha da Sétima Arte concebida e orquestrada pelo Andrzej Zulawski.
Por mais advertido que se esteja para a famigerada cena dos corredores do metrô, ela é inevitavelmente arrebatadora: os movimentos epilépticos e as expressões de absoluto terror da Adjani parecem seguir a música do Andrzej Korzyński numa perfeição assombrosamente simbiótica. Tendo se entregado completamente ao papel (numa atuação comparável a da Maria Falconetti, em La Passion de Jeanne d'Arc), o trabalho de corpo da Isabelle Adjani nessa cena em particular é uma das cenas mais brilhantes e perturbadoras que o cinema já produziu.
Filme inesquecível e que certamente fala a cada um de sua maneira.
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