Zathura: Uma aventura espacial (2005) é o que podemos chamar de uma tentativa de "upgrade" do clássico Jumanji (1995), mas que infelizmente fica apenas na tentativa. Não que o longa não mereça algum crédito, especialmente pelo novo visual da aventura, mas, como um bom filme fast-food, ele só existe para saciar a sede high-tech dos produtores, mostrando cenas inéditas de uma casa que voa pelo espaço, não importando o "como" nem o "por quê" disso acontecer.
As duas histórias, baseadas nos livros do escritor Chris Van Allsburg, mostram jogos de tabuleiros mágicos, que transformam em realidade os desafios propostos aos protagonistas. A filosofia de ambos roteiros é a mesma: "Começou o jogo? Agora termine! Por que essa é a única maneira de desfazer as maluquices que as brincadeiras propõem". Brincadeiras essas que, teoricamente, podem matar.
Não li os livros e, por isso, não posso afirmar se o diretor Jon Favreau seguiu a risca a história desse segundo conto, mas caso o tenha feito, tenho a impressão de que Van Allsburg não teve muita originalidade ao recriar a fórmula de sucesso do seu antigo Jumanji. Tudo continua igualzinho lá: casa velha onde está escondido o tabuleiro e crianças insatisfeitas com pais separados. Também há o resgate de uma pessoa presa em um antigo jogo não terminado (com uma pequena diferença nessa versão, porém não muito bem explicada ao espectador).
Em Jumanji, estrelado por Robin Williams e a iniciante Kirsten Dunst (a Mary Jane do Spider-Man), os estragos realizados com o jogo não tinham limites de alcance. A cidade inteira (e por que não dizer o mundo) poderia sofrer com os desafios impostos e improváveis aos heróis, como um estouro de animais selvagens ou um dilúvio. Já em Zathura, interpretado em suma por Josh Hutcherson e o caçula Jonah Bobo, os impactos ficam restritos dentro da casa que, após apertar o botão inicial, é levada para fora da Terra, onde cometas, aliens reptilianos, robôs e astronautas farão parte desse universo. Mesmo sem a lógica de se respirar oxigênio no espaço sideral, esse cenário "mais perigoso" mostra-se uma agradável surpresa.
Mesmo com a chance de explorar melhor as lacunas deixadas em Jumanji, Allsburg se limitou em seguir a velha receita (ou seria culpa do diretor?). A exemplo do que não foi feito e que poderia ser o diferencial: o que aconteceria se um dos jogadores morresse? Como cada jogada deve rigorosamente respeitar a ordem dos participantes (primeiro um, depois o outro), como seria possível terminar o jogo e desfazer essa tragédia?
Aliás, falta de inovação não é o único problema, e sim, a falta de estruturas básicas da história. O filme começa e termina com a mesma velocidade com que as cartas são retiradas do jogo. Em Jumanji, apesar de simples, ao menos mostra-se a origem e o destino que é dado ao tabuleiro "maldito" (com uma possível brecha para uma continuação no final) e aos protagonistas. Agora em Zathura, isso não importa. O jogo simplesmente aparece do nada na casa e por lá fica. Contudo, será mesmo que isso não importa ao publico mais exigente?
Regado de reviravoltas e atores carismáticos, Jumanji era mais coerente e lógico, atraindo não só os jovens, mas os adultos também, justamente por ter mais adultos interpretando na trama. Robin Williams estava realmente perfeito e parte do sucesso da obra, foi devido ao seu carisma. Zathura pereceu de alguém assim...
O fato é que Zathura é mais infantil, o que já dá uma "esnucada" no tipo de publico ao qual se dirige: crianças. Colocar apenas atores-mirins como protagonistas de filmes nem sempre é uma boa saída, pois tira-se um pouco da sensação de veracidade as cenas. Está certo, sabemos que nunca vai existir um tabuleiro mágico, mas também não é preciso exagerar com os meninos prodígios capazes de qualquer coisa.
Um pouco mais de ousadia, aliado ao bom senso, não fariam mal a ninguém. ;)
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