Como procurar por alguém que ninguém viu, será fruto da imaginação? A atmosfera criada no decorrer do filme é aterrorizante, digna de filmes de terror, apesar de ser um suspense que ganha ares de Noir no desenrolar dos acontecimentos. Baseado na obra de Marryam Modell, narra a trajetória de uma mulher recém chegada a Londres, Ann Lake(Carol Lynley), que vê seu mundo desabar quando não encontra a filha na saída da escola no primeiro dia de aula.
Além da dúvida se Bunny Lake existe, o telespectador tem que se preocupar também com o passado da dupla Ann Lake e Keir Dulle( Stephen Lake), onde são jogados na tela sem revelar quase nada de seus passado, instigando ainda mais quem presencia, e parece não acreditar do que está vendo. Teses, afirmações, dúvidas criadas e derrubadas a cada minuto, a cada cena, nunca foi tão bom bricar de esconde-esconde. Para aumentar ainda mais a tensão, a garotinha não aparece em momento algum, fazendo assim soar estranho a brincadeira de esconde-esconde, procurar por alguém que pode existir ou não.
O começo parece ser bobo, de estória simples como se tivesse tudo em sintonia, e em menos de 15 minutos acontece a primeira reviravolta no roteiro. Escrito por John Martimer e Penelope Martimer o roteiro é daqueles instigante, que prende sua atenção do início ao fim, até porque se colocamos na pele do superintendente Newhouse interpretado por ninguém menos que Laurence Olivier, e passamos a procurar juntos a cada quarto e esconderijo que rodeia aquela escola. Esse não é o único ponto forte do roteiro, que começa com cara de filme infantil, logo após terror psicológico, e a partir da investigação/procura por Bunny Lake um suspense/Noir, e a cada gênero que a obra passeava sempre o ótimo nível é mantido coisa de gênio.
Otto Preminger sabe fazer como ninguém transformar estórias simples em algos mirabolantes, vimos isso lá no início de sua carreira, Laura expoente do Noir. Travellings nada gratuitos e esteticamente elegante são uma das suas características mais marcantes, que atingiria o ápice em Bunny Lake. Principalmente o lindo travelling em um Pub: na capital de Londres que segundo Newhouse é o coração da cidade, onde vemos a televisão ligada em um noticiário, que ao mudar de canal se deparamos com o show da banda The Zombies, aumentando assim o valor da cena, que exige a dramaturgia ao máximo dos personagens nela inseridos.
As atuações são impecáveis, apesar do papel secundário Laurence Olivier rouba a cena na maioria das vezes que aparece. Carol Lynley fez valer a insistência de Preminger que a preferiu ao invés de Jane Fonda como prefiria a Columbia Pictures. Já Keir Dulle é de um cinismo incrível, aparenta ser um cara do bem até aos 45 minutos do segundo tempo, e nos acréscimos sua verdadeira faceta é revelada. A trilha sonora é das coisas mais lindas que já vi dentro do gênero, na cena da senhora Ford chega a ganhar tons Macabros, colocando assim outro ponto de interrogação na história.
O final do filme meio que volta ao início, a cena do balanço resgata a aparência boba, mas só a aparência mesmo. Ann e Stephen protagonizam uma das cenas mais memoráveis, quem assistiu ao filme e não deu vontade de voltar no controle para a repetição da cena atire a primeira pedra? E como não poderia ser diferente o final é coerente respondendo assim a pergunta lá do início, e assim o público sai com a sensação de ter respondido a pergunta, que se fazia a ele mesmo, Bunny Lake existe! É esses pequenos detalhes que passam despercebidos pela maioria que faz deste uma das maiores obra-prima do suspense.
Gostei do texto. Tocou em quase todos os pontos que o meu.
É um suspense mesclado com noir e drama muito bem dirigido.
Valeu Patrick! Realmente é um dos melhores suspenses de sempre.