Às vezes considero um certo risco assistir adaptações de livros que marcaram a minha vida. Mas, por considerá-los irretocáveis, acabo por aventurar-me nas trilhas de uma película em direção à obra literária. O problema reside no caminho inverso que, às vezes, algumas obras cinematográficas tomam, desconsiderando caminhos que se propuseram a percorrer enquanto adaptação.
Este caso é meio que dividido na adaptação cinematográfica de “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector. Se por um lado fico extremamente embevecido e atônito com as pinceladas fiéis de Marcélia Cartaxo ao reviver Macabéa; por outro, fico um pouco decepcionado ao ver que a narrativa cinematográfica tomou certos caminhos equivocados na contramão do romance de Clarice. Uma pena. Porém, não foi o suficiente para tirar o brilho dos meus olhos ao ver, ou reviver, esta história – que tanto me acerta em cheio – projetada na telona.
Suzana Amaral consegue transpor nesta película toda a sensibilidade e dramaticidade que a obra de Clarice contempla, além do humor simplório carregado de consternadas reflexões. E o que falar das atuações? Memoráveis! Marcélia Cartaxo e José Dumont incorporam brilhantemente suas personagens Macabéa e Olímpico, respectivamente. Vale ressaltar a icônica performance de Fernando Montenegro como Madame Carlota, a cartomante.
Em suma: embora os pretextos e omissões – principalmente no desfecho – da narrativa fílmica demonstrarem leve descrédito em relação à obra, deixando a desejar, o filme conseguiu tatuar a essência de uma das obras mais imponentes de Clarice Lispector. Retificando meu discurso inicial: é preciso arriscar.
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