A princípio, não tinha nenhuma pretensão em escreve sobre "Elena", pois acredito piamente que o documentário/filme me proporcionou uma das experiências cinematográficas mais indescritíveis nesta minha cinefilia. Portanto, é deveras árduo tentar colocar neste espaço o que transcende o material, o concreto. "Elena" é, em essência, uma experiência indizível.
Durante toda a projeção, já não me sentia mais numa sala de cinema, muito menos como espectador, mas, sim, como um ser de forte laço com a saudade que era fotografada em cada verso, fragmento e passagem de "Elena". Uma saudade que o meu eu chamais esquecerá. Sinto que foi uma vivência poético-visual que me tirou de mim e me entregou aos braços da magnitude humana. E cabe dizer aqui como somos intensos, sonhadores; entretanto, também somos sensíveis, vulneráveis.
"Elena" é um olhar extraposto sob a perda, sob a alma, é uma intimista manifestação das emoções que nos movem, inquietam, alimentam e dilaceram. Não consigo enxergar o amor declarado por Petra Costa e sua mãe se não for com os olhos do coração. Sentia-me mais envolvido quando carregava a saudade – e por que não a dor? – de olhares que buscam na memória uma forma de eternizar a existência de Elena.
Entregava-me a cada silêncio que ecoava pela atmosfera, silêncio este que tocava minha alma numa poesia infinita que se perpetuava por todo o cinema. Silêncio composto por Elena. Silêncio composto por lembranças. Silêncio composto por poesia. Como diz um trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade: “a poesia deste momento inunda minha vida inteira”. E, assim, a poesia de "Elena" inundou o amor, inundou a vida, e me inundou.
Poderia citar a bela direção de arte, fotografia e a forma como tudo foi contado – mérito notável deste documentário/filme –, mas me reservo unicamente a expressar minha concepção emocional acerca de "Elena". Compromisso sentimental que não dispenso, sobretudo por ser ele o catalizador de toda a obra, pois o que saltava da tela, sem sombra de dúvida, era a erudição lírica de uma miscelânea de recordações felizes e dolorosas, que atravessavam o meu peito e me deixavam sem fôlego.
O desfecho é uma transcendência à parte. Fui levado pela força da emoção, acompanhando o ritmo da onírica dança nas águas de um rio de sentimentos, que a família de Elena poeticamente se entregava. Enxergava-me mais próximo de Elena, enxergava-me arrebatado pelo amor. Diante da profundidade das declarações, percebi o quão sou pequeno, meus braços já correspondiam à força de uma gravidade transcendental, avassaladora. E, no final da sessão, na imensa sala de cinema, observava todos comungando de uma mesma introspecção, entregando-se à fragilidade humana, às dores de Elena. Afinal, somos todos Elena.
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