A nostalgia típica do Wes toma uma forma autoconsciente.
Acho que a crítica pouco soube o que fazer com a apologia de Anderson que vem pela voz de Zero perto do final, uma admissão de materialismo e justificativa dele: a matéria como reprodutora do espiritual.
Nostalgia define o estilo de Anderson bem mais que a mera simetria arquitetônica e paleta de cores, é uma memória característica pela sua relação com a história mais do que com a psicologia. Ao chafurdar no universo da Europa em guerra isso é elevado mais do que ele pôde em qualquer momento anterior. Hotel Budapeste é abertamente uma carta de fascínio infantilmente curioso pela ideia de mundo perdido, de Geist, onde seus metodismos típicos não parecem fora de lugar, mas também é um filme sobre como esse Geist sobrevive por meio do objeto.
Para Anderson aquela Europa se torna um mundo encantado carregado de magia dada pela presença do passado, e a permanência desses lugares, maior que a inefabilidade do Espírito, cria uma passagem de informação representada pela espiral em que o filme se apresenta: um hoteleiro que conta uma história a um escritor que a torna em livro que acaba nas mãos da menina que peregrina até o busto histórico do autor. A história em si é mobilizada pela mobilidade de um McGuffin físico testemunhando o mesmo país que também faz a leitora posteriormente extasiada pelo tamanho do espaço e do tempo que compartilha com aqueles personagens. É um objeto perseguido que ultimatamente carrega as vontades da falecida. E 30 anos depois, todo aquele mundo em decadência se torna uma memória do amor perdido e de uma nostalgia sobre a qual Anderson tem muito mais entendimento sobre do que se espera de um auteur tão abertamente fetichista.
Para ele os títulos de intermissão com motivos gráficos temáticos remetem ao produto de uma era e mentalidade da qual as últimas testemunhas são a indestrutibilidade da matéria. Podemos chamar sua filmografia de infantil, sempre, mas é em Grande Hotel que ela se justifica como um profundamente melancólico respeito pela antiguidade, em que os toca-discos vintage são sobre revoluções sangrentas no Oriente Médio.
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