Para mim, o filme foi uma bagunça sensorial. Cada cena parece tomar um rumo diferente, o que confere à narração certo tom que, por ser inconstante, torna-a uma perfeita correspondente à mente do protagonista. O reforço às qualidades encontra-se também nos ângulos de seus planos em ambientes fechados, que só aumentaram minha sensação de proximidade com os eventos que transcorriam. Por se tratar de desequilíbrio mental, estas características mostraram-se incrivelmente coesas com a proposta do roteiro, assim como os contatos entre os protagonistas – muito engraçados juntos – e sua antiquímica perfeita. Até a metade, “O Lado Bom da Vida” mostrou-se um filme verossímil quanto à realidade de seus personagens, sensível como necessário e ainda assim cômico.
Entretanto, não posso fingir que tudo foram rosas. A performance do Cooper soa artificial em diversos momentos, o que a salvou foi sua interação com a Lawrence, esta sim merecedora de elogios. E mesmo que o trabalho da dupla tenha se destacado, estava num contexto para lá de desfavorável: junto da baguncinha sensorial gostosa trazida, também se explicita desde os primeiros minutos sua estrutura como uma comédia romântica clichê. Tem os protagonistas sofridos que acabaram de sair de problemas “afetivos” sérios, suas dificuldades em lidar um com o outro, um evento que os une, um clímax repentino que reforça a afinidade do casal e o final feliz quase obrigatório. Por trás da beleza sincera, há também a sensação de que já vimos tudo aquilo antes.
E não é por conta da estrutura dramática óbvia que o filme falha, mas pelo ar insensível de sua segunda metade. Com os tais conflitos forçados (destaque à aposta estúpida), perde-se também o foco na exposição das personagens. Em sua reta final, o filme não liga mais para toda a sensibilidade já demonstrada, apenas gera correrias para dar fim a seus conflitos e declarar todo sofrimento como cessado.
“O Lado Bom da Vida” é um prato cheio em questão de personagens, do encaixe destes nas situações, em questão de sua direção empática, mas falha em concluir o tratamento de seu aspecto mais importante: o dramático. Todo o desapontamento com os floreios de seu fim nos deixa com a sensação de resoluções fáceis e de clássico sentimentalismo barato. Mesmo com suas iniciais amostras de beleza sincera, não há salvação, nem todas as qualidades unidas nos desviam de que o único propósito final era mostrar um beijo em câmera giratória.
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