Inicialmente vemos um alemão vagando pelos Estados Unidos, entre paisagens vazias tirando fotos. Começamos a nos indagar que personagem é este, a compreende-lo. Seu olhar indiferente já nos diz muito; suas primeiras falas expressam suas angústias ao encarar uma foto, em preto e branco, e balbuciar sua incapacidade de guardar um momento e suas sensações: é sempre diferente.
Aos poucos somos apresentados a este personagem que como nós, está perdido no mundo, um cego lutando com uma multidão e levando porrada de todos os lados; perdido de si mesmo, que não vê sentido na vida e está indiferente a ela, cético; pra ele tudo é igual. Está numa busca pelo sentir, mas não consegue sentir, se permitir sentir, se envolver. Vive de fugas, quando muito de pequenos prazeres momentâneos. Tenta se iludir, criar uma história que de fato não viveu, está tão entorpecido com a vida e quer se sentir vivo através de suas áridas fotografias. Culpa o mundo, a TV americana (capitalista): “A TV americana é desumana, não por estar repleta de propaganda, apesar de isso já ser péssimo, mas porque todos os os programas são propagandas, propagandas para o status quo. Cada imagem irradia a mesma desagradável e doentia mensagem, uma espécie de menosprezo jactante. Cada imagem quer algo de você”. Sempre a busca por respostas e sensações, que esta de fato entorpece, mas não exclusivamente...
Descobrimos que ele, Philip Winter, por dificuldades financeiras tem que retornar à Alemanha, algo que parece relutante em fazer, talvez por trazer à tona sensações e lembranças que ele não consegue lidar (como somos contraditórios...). Em meio a isto ele acaba embarcando em uma jornada, com a pequena Alice, que ironicamente acabou ficando sobre sua responsabilidade, em busca de sua mãe/avó. De início sempre distante, sem saber apreciar o momento; mas nessas idas e vidas, inconscientemente, começa aos poucos a se permitir, onde ocorre sua primeira separação, o que é natural, dado o que isto gera nele. Já Alice, a seu modo, também busca viver nesse mundo; uma criança perdida e rejeitada em busca de aceitação e carinho, mas também acuada.
Após esta separação, após Phil assistir ao show de Chuck Berry, eles se reencontram, e vemos que algo está diferente, o que acaba culminando em singelos momentos de amizade e cumplicidade, onde estão de fato vivendo. Percebemos que a muito fotos não são tiradas, não existe necessidade de se criar uma lembrança... e quando uma é finalmente tirada, por Alice, que tira foto dele, e vemos aquela refletida na imagem, temos a certeza de que estão em sintonia, vivos. Não foi preciso de cores pra percebermos a multiplicidade que estavam vivendo...
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