Teses e teses, críticas e críticas, feitas por pessoas e pessoas, sobre filmes e filmes. E também sobre livros e livros, e etc. Entender que nenhuma destas visões está "correta" é o primeiro passo da minha, que exponho afim de tentar entender melhor um cineasta tão (mal)interpretado como Brian de Palma.
Afinal, o que diabos estava a tentar fazer ou dizer com esse longa? Ultrapassar a barreira do simples "imitador de Hitchcock" é o caminho mais óbvio, se é que existe algum, para tentar responder a tal pergunta. Janela Indiscreta, Psicose e Vertigo logo vem à tona, mas não somente está tudo de cabeça para baixo como também não está. Digo Hitchcock porque é o mais óbvio, mas também poderia forçar um pouco mais e dizer Howard Hawks ou até Dupin (E. Allan Poe). Voltando à referência inicial, o bisbilhotar, o crime perfeito e a persistência do protagonista remetem ao herói "lesionado" que fez par com Grace Kelly, mas que aqui é um ator de filme B fracassado e traído. A cena do beijo e a fobia são Vertigo, as duas protagonistas e o vilão fake são Psicose. Poderia gastar mais dez mil palavras só identificando referências.
A subversão do personagem hitchcockiano é o que De Palma veio tentando tantas e tantas vezes, e é, acredito eu, o motivo de maior alegria dos entusiastas deste diretor. Por algum motivo isso nunca foi um grande atrativo para mim, talvez por ter experimentado subversões mais "poderosas" em, por exemplo, westerns (Ford, Leone, Altman).
O puro exercício em fazer filmes é o que ele vem tentando demonstrar. Aulas de cinema: referências por ora de ponta-cabeça e por outra de fã histérico, uma trama absolutamente e propositalmente inverossímil, um "quê" de filme B e personagens disfarçados de monstros grotescamente. Em poucas palavras, acredito que sua intenção foi forçar o público a entender o que é cinema: nada do que se vê é real, pode-se fazer o que quiser, não existem limites. Para mim, são seus filmes altamente insistentes nesse ponto, mas de novo, há cineastas que fazem melhor.
A mensagem ainda é bem forte. E para quem ainda não entendeu o que é cinema basta observar o brilhantismo técnico da câmera e seus movimentos. Isso sim, De Palma dá show. A cena da perseguição no shopping e na praia entram para o hall já superlotado de sequências estelares do diretor.
Há também alguns outros pontos dignos de mais parágrafos. O ator fracassado e a atriz pornô, a "escória", sendo esmagados e enterrados vivos pelo diretor bem-sucedido e rico de um "filme perfeito" é somente uma das muitas metáforas poderosas que apontam como Hollywood, o lugar que estão, trata seus empregados. Um dia é querido, no outro escrachado. Quem está na parte baixa da "pirâmide" é obrigado a aceitar qualquer papel.
Outra presença inegável é a cultura-indústria da violência e do sexo. Ambos andam lado a lado, conforme demonstrado. Em Hollywood a industria do sexo é forte, talvez mais do que nos outros lugares do mundo, e exerce força poderosa sobre as pessoas. Que no final podem acabar fisicamente machucadas.
Excluindo os últimos dois parágrafos, essas minhas conclusões são as mesmas para qualquer filme de Brian De Palma. É curioso observar que os fãs do diretor acusam as críticas negativas de não entenderem, de interpretarem mal as referências e de não penetrarem em sua mente "cinema por cinema", mas fato é que muitas vezes tais críticos conseguem chegar à mesma atmosfera, mas apenas não se empolgam tanto. Entretanto, o voyeurismo, o tema observar pelos olhos do personagem e o toque noir dão a esse filme uma louvável originalidade.
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