Ed Harris se arrisca mais uma vez na direção para trazer a vida uma obra do escritor Robert Parker. Um verdadeiro tiro no escuro, considerando o fato da obra em questão ser um faroeste. Sim, pois não é nenhuma novidade que tal gênero, que rendeu muitos dos melhores filmes de todos os tempos, está definitivamente perdido no tempo. No entanto, será surpreendido aquele que espera de Appaloosa - Uma Cidade Sem Lei nada além de uma história fraca e um amontoado de clichês. Apesar da ousadia, Ed Harris se sai muito bem e consegue misturar influências e originalidade na medida certa para criar uma obra eficiente em sua proposta. Um espectador ciente de não estar diante de uma maravilha da sétima arte ou algo que reviverá o faroeste certamente poderá assistiar a esse filme e se satisfazer.
A trama é ambientada em uma pequena cidade americana chamada Appaloosa. Quando o antigo xerife local é assassinado por um criminoso sem escrúpulos chamado Randall Bragg (Jeremy Irons), a cidade decide contratar novos protetores da lei, representados pela dupla Virgil Cole (Harris) e Everett Hitch (Viggo Mortensen). Com a sua chegada, os novos xerifes prontamente tratam de afugentar o bandido e trazer ordem àquele local, mas a aparição da bela viúva Allie (Renée Zellweger) começa a alterar o sentido das coisas.
Appaloosa tem o simples objetivo de exibir uma relação entre personagem e seu espaço. O primeiro é e amizade entre seus dois protagonistas, e o segundo, as adversidades que enfrentam. Afinal, a grande questão é se o emocional chegará a interferir nas ações da dupla ou se de alguma maneira irá interferir em sua própria relação, que é alcunhada em diversas ocasiões de ''estritamente profissional''. Existem duas respostas: sim e não. É evidente, e a maior empolgação é encontrada quando o espectador percebe que estava sendo enganado: ao contrário do que se pensava no começo, é Hitch quem age com emoção, não Cole. No final das contas, proteger a lei é o único e real desejo do personagem de Harris, enquanto Mortensen realmente se preocupa com valores e com o bem-estar de seu amigo.
O filme, apesar de um western, tem uma roupagem claramente atual, a exemplo da interação entre Cole e Hitch com Allie, o que às vezes também soa - para o tédio geral - forçada e inverossímil. Até certo ponto isso pode ser uma inovação. E como de costume, afim de agradar uma platéia ávida por diversão barata, essa obra nos entrega muita ação estilizada e ainda um tipo poucas vezes visto impresso no personagem principal, um valentão-imbatível com inexperiência para relação com o sexo oposto (Bonnie e Clyde?). Ainda, a influência do clássico faroeste se vê na aparição da ameaça selvagem, o índio, e inclusive na concepção plástica daquelas cenas, onde a imensidão da paisagem ''engole'' os homens presentes. Isso prova que, hoje ou daqui a 2000 anos, quando algum filme western for feito, John Ford nunca deixará de ser citado.
Enfim, o desfecho final realmente entrega o que tanto foi suspeitado: entretenimento sem muito conteúdo. E como a humildade de Harris se mostrou presente desde o início, sua superficialidade é muito bem aceita. No mais, as ótimas atuações (inclusive Irons, aceitando interpretar um vilão sem escrúpulos) dão veracidade e conscistência ao único propósito deste longa, a despretensão.
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