Em VIVER (Ikiru, 1952) Akira Kurosawa prova que é um autêntico humanista. Assim como Rashomon, vivemos em um mundo podre feitos por humanos, mas é a partir dele que a salvação ocorrerá. Takashi Shimura, ator recorrente em sua carreira, interpreta Kenji Watanabe, um burocrata que trabalha na prefeitura de sua cidade que descobre que morrerá e acaba imerso em uma busca incessante pelo sentido de sua vida, seu papel na terra enquanto está vivo e suas relações pessoais. Kurosawa conta essa história de diversas maneiras, intercala estética noir e expressionismo alemão, através da atuação de Shimura que lembra o velhinho de A Última Gargalhada (F.W. Murnau, 1924) e também tem cenas extremamente satíricas, abordando a desumanização urbana dos personagens.
Logo no inicio, assim como um autentico filme noir recebemos a noticia através de um narrador que o protagonista morrerá, nas cenas que se seguem o narrador aborda de forma crítica a burocratização presente no trabalho do protagonista, seus companheiros de mais de 30 anos não tem a menor afeição por ele. Kurosawa ainda reserva o diagnóstico do câncer para um desconhecido extremamente detalhista e cruel. Logo depois ele sai do médico e quando está na rua a câmera se afasta de maneira caótica para depois se aproximar de sua casa, onde passaremos a conhecer o seu ambiente familiar hostil. Nesse inicio, o filme demonstra todo o martírio do personagem de forma expressionista através de sombras, jogos de luz e nas suas expressões faciais exageradas: em determinado momento o despertador toca no meio das sombras chamando-o ao trabalho, que representa todo o arrependimento de sua vida.
Após curtir um pouco a vida em um bar acompanhado de seu “Mefistófeles” e ter um estranho relacionamento com sua companheira de trabalho mais nova, a luta de Watanabe passa a ser construir uma simples praça, um respiro de natureza nesse meio urbano impessoal. É a sua forma de “viver antes de morrer”. É um filme a favor da vida, pois dela fazem parte também a morte e a tristeza. O final do filme ganha ares políticos e gira em torno do velório de Watanabe, em que várias reflexões, silogismos e lembranças elevam o personagem de inútil que não fez nada na vida a exemplo a ser seguido para construir uma sociedade melhor através de uma atitude pequena, mas que fez toda a diferença. Akira tinha fortes tendências socialistas e critica fortemente o Japão americanizado pós guerra.
7,5😲 Ok Arnaldo Jabor.
Meu kurosawa preferido junto com Ran e Rashomon. De um dramalhão de uma singeleza incrível.
7,5 é mto pouco mesmo 😎
notas zzzzz
Texto ok. Discordo da nota avaliativa. Mas é a avaliação dele e temos de respeitar. Adorei "...construir uma sociedade melhor através de uma atitude pequena", apesar do filme desmentir tal expressão. Mas ela é lindíssima. Parabéns.