Uma epidemia assola o mundo, todos estão morrendo e não há nada que se possa fazer. Nesse ambiente, quatro adolescentes tentam sobreviver. Carriers (2009) mostra a jornada desses jovens que lutam contra o inevitável. Um filme que tinha tudo pra ser apenas mais do mesmo se diferencia por colocar o lado humano (ou desumano) dos personagens em primeiro plano.
Ao contrário da maioria dos filmes sobre epidemias (das quais boa parte são sobre zumbis), Carriers foge de recursos bastante explorados no gênero como sustos baratos e cenas de ação. O foco aqui são os personagens e seus dilemas. Tanto os quatro adolescentes (Brian, Danny, Bobby e Kate – todos muito bem interpretados por Chris Pine, Lou Taylor Pucci, Piper Perabo e Emily VanCamp respectivamente) quanto os outros personagens do filme têm seus dramas explorados de uma forma muito mais profunda do que em outros filmes sobre o assunto.
Aqui, em nenhum momento é explicado como se disseminou a doença, o que evidencia a escolha por focar no lado dramático da situação. Tudo o que sabemos é que ela é transmitida pelo ar e pelo contato com o sangue do infectado. Até mesmo as conseqüências da infecção não são explicadas de forma direta, e isso é um acerto dos diretores Alex e David Pastor. É possível deduzir pelas imagens, nos poupando de um didatismo desnecessário, o que acontece com quem pega a doença.
Carriers mostra uma abordagem extremamente realista sobre como seria ter de sobreviver em meio a uma epidemia. A competição por suprimentos, a esperança (ou a falta dela) na busca de uma cura para a doença e todos os sacrifícios necessários para sobreviver são evidenciados durante os 90 minutos do filme. E são essas situações que desencadeiam as melhores e mais tensas cenas da película.
A primeira dessas cenas mostra o primeiro dilema a que passam os quatro adolescentes: em meio à busca por uma lugar seguro para viver, eles são parados por um pai e sua filha, uma criança que foi infectada. O pai diz que em uma cidade próxima há um grupo de pesquisadores que estão perto de encontrar uma cura para a doença. Então ele pede aos jovens que levem sua filha até essa cidade. O que faríamos se estivéssemos no lugar dos adolescentes? Correríamos o risco de infecção para ajudar uma criança a buscar uma cura que sequer sabemos se funciona?
Assumindo o risco, eles resolvem ajudá-la e logo sofrem as conseqüências: Bobby, ao tentar socorrer a criança, acaba entrando em contato com seu sangue. Em pouco tempo, os outros três descobrem e têm de decidir se ela continuará na viagem. Brian, devido ao relacionamento amoroso com Bobby é o que mais sofre com a situação. Eis a segunda e talvez mais importante questão do filme: vale tudo para sobreviver, até mesmo abandonar aqueles que amamos? Danny passa pela mesma situação quando descobre que o irmão Brian também está infectado.
Em ambas as situações, os personagens optam pela sobrevivência. No final do filme, há uma narração em off de Danny que coloca com perfeição as conseqüências de suas escolhas nessa jornada. Todos os sacrifícios que fez, todas as pessoas que deixou para trás para que pudesse permanecer vivo acabou o deixando sozinho no mundo com uma pessoa a quem não tem nada a dizer.
Carriers acerta por tratar com respeito a inteligência do espectador. Mesmo tendo uma premissa batida, traz uma abordagem mais humana e que nos leva a refletir sobre o que faríamos se estivéssemos naquela situação. Isso o diferencia do demais filmes sobre epidemias e o que faz valer os 90 minutos de duração da película.
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