Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro
Impressionante a qualidade e a construção do filme. Longe de ser uma produção sensacionalista, arquitetada a partir de um vezo ideológico (Leia-se vezo/crivo da Rede Globo) que busca alocar a culpa em apenas um ponto, Tropa de Elite 2 põe o dedo em nossa ferida brasileira: A CORRUPÇÃO. Quem são os culpados por tanta violência e desvio de verba no Brasil? A resposta é complexa justamente porque envolve no sistema agentes de todas as espécies: o político corrupto, o político idealista, o favelado honesto, o traficante, os policiais (corruptos e idealistas), além de outros protagonistas.
Nessa complexidade toda: PODER, CORRUPÇÃO, VIOLÊNCIA E DROGAS, quarteto sempre atravessado pelo dinheiro, somos (re)apresentados ao capitão Nascimento que brilhantemente é construído pelo igualmente brilhante Wagner Moura.
Tropa de Elite 2 é um retrato fiel de nosso país, nossas organizações e, mais do que isso, mostra que a corrupção se alastra em todos os estratos, todas as camadas. Para fazer frente a esse sistema corrupto, nasce o capitão Nascimento que, não sem razão, traz o radical de nascer em seu próprio nome. Capitão Nascimento é um herói (em sentido amplo e restrito). Restrito porque representa os anseios de uma coletividade (nós brasileiros?), amplo porque cada um de nós, brasileiros comuns, ordinários, que se levantam às seis, trabalham o dia todo e regressam cansados para casa, nos vemos representados nesse capitão/homem/brasileiro/pai que se recusa veementemente a se aliar à corruptividade de um sistema que, nas palavras do próprio capitão, dá uma mão para não perder o braço. O jeito estóico, heróico, olímpico e implacável com o qual o capitão Nascimento bate de frente com o sistema é alucinante, pois o brasileiro honesto (o que não quer dizer isento de culpas e responsabilidades) se sente de alma lavada depois de levar tanto sopapo na cara, agredido por cada cena do filme que nos diz o seguinte: Não tem como extirpar a corrupção, ela está enraizada neste país.
O sistema (que muitas vezes humanizamos, atribuindo-lhe vida própria) somos nós. Logo, nós fazemos nascer a corrupção, nós fomentamos a corrupção, nós a elevamos a status de celebridade enquanto, no caso do filme, as favelas cariocas tornam-se palcos de massacres em série sem que se possa distinguir quem é o mocinho e quem é o bandido! é o policial que cobra do traficante pra este continuar com seu negócio ou é o traficante que "protege" os moradores da comunidade fornecendo-lhe o GatoNet, gás, luz com preço reduzido? Ou será que o próprio morador "honesto" da comunidade também não contribui para a procriação dos tentáculos do sistema.
Enfim, Tropa de Elite 2 é merecidamente digno de ser apreciado. Belas atuações, tão realista que se confunde ficção e realidade e, no meu ponto de vista, o ponto alto desta produção: não existe um foco de corrupção ou um culpado apenas! A corrupção está alastrada, enraizada, sempre alimentada pela sede poder, controle e dinheiro, muito dinheiro!
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