Confesso que ao ler a sinopse do filme me lembrei de Brokeback Mountain; acho até compreensível dada a temática do filme. De Repente, Califórnia, assim como disse o Emílio Franco Jr. é uma produção esquemática, é quase uma narrativa linear na qual consta início, meio, fim e há até certos momentos em que o espectador - atento - consegue antever o que acontecerá mais a frente, como o ingresso de Zach na escola de artes graças à inscrição feita escondidamente por Shaun.
Esses detalhes, no entanto, não comprometem o filme, que consegue mostrar com delicadeza e simplicidade a construção da relação entre Shaun e Zach bem como a gradativa “descoberta” que Zach faz de si mesmo. Com uma família totalmente desestruturada que se reduz apenas à irmã, ao sobrinho Cody (este é especialmente querido por Zach e o vê como pai) e ao pai, que é praticamente inexistente, Zach não possui planos nem perspectivas de vida, e vive, quotidianamente, afogado no tédio e apenas consegue momentos de lazer surfando, andando de skate, saindo com seu melhor amigo Gabe, ficando com Tori, sua namorada e principalmente grafitando.
O núcleo central do filme (já que há outros ligados a este) desenrola-se justamente com o relacionamento entre Zach e Shaun. E é partir daí que a vida de Zach, digamos, sofre uma reviravolta. Shaun – que é escritor – ao vir de Los Angeles para passar uma temporada com o irmão Gabe (melhor amigo de Zach) no intuito de arejar a cabeça e ter novas idéias para continuar a escrever, reencontra Zach e juntos relembram a infância e desse reencontro gradativamente uma íntima relação é construída.
É interessante notar que o filme, mesmo arquitetado esquematicamente, não força a barra quanto ao envolvimento entre Zach e Shaun a ponto de, no primeiro beijo dos dois é como se já estivéssemos devidamente envolvidos com as personagens e perfeitamente preparados para “sermos beijados também”. Explico-me. O beijo é natural, uma simples conseqüência do envolvimento de ambos.
Inicialmente, (estratégia previsível) Zach não aceita a sua, então, condição de homossexual, e trava conflitos consigo mesmo projetando o meio social aonde vive e as pessoas mais íntimas da sua vida. Ele se preocupa mais com a opinião dessas pessoas do que com a sua própria, até que, tomado pelo desejo e também a curiosidade de conhecer e experimentar o diferente, se entrega a Shaun e ambos vivem uma deliciosa e leve “infatuation” que se transforma em algo mais sério, mas isso cabe ao espectador imaginar após o término do filme.
Enfim, De Repente, Califórnia, é uma produção interessante, meio “água com açúcar” que consegue envolver o espectador. Aborda uma temática que cada vez mais vem ganhando espaço nas produções cinematográficas (O segredo de Brokeback Moutain, Meninos não choram e até mesmo Vicky Cristina Barcelona) sem (ainda bem) se mostrar sensacionalista ou inverossímil e coloca em evidência o homossexualismo bem como as demais temáticas que se imbricam a esta (conflitos familiares, pessoais, sociais, etc.) alargando, assim, a mente daqueles que ainda insistem em associar o homossexualismo a doença e ou promiscuidade.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário