Polícia britânica mata brasileiro por engano após confundi-lo com terrorista
A polícia britânica matou por engano nesta sexta-feira o brasileiro Jean Charles de Menezes, 27, na estação de Stockwell (sul de Londres) após confundi-lo com um terrorista ligado aos ataques da última quinta-feira na capital do Reino Unido.
Hoje, a Scotland Yard admitiu o erro e informou que o brasileiro foi atingido cinco vezes na cabeça depois de ter se recusado a obedecer a ordens da polícia de parar dentro de um vagão do metrô.
Folha de São Paulo, 23 de Julho de 2005 às 22:39
Essa foi uma das várias reportagens que correram o mundo após o anúncio da morte de Jean Charles de Menezes, brasileiro morto por engano pela polícia londrina após ser confundido com um terrorista.
Quatro anos depois, a história do imigrante trabalhador assassinado virou filme. A cargo de interpretá-lo, Selton Mello engordou e trabalhou o sotaque mineiro. Jean Charles é um filme que todos já conhecem o final, mas que mesmo assim consegue manter o espectador atento. Em meio a altos e baixos, o longa consegue se manter firme.
Existem vários pontos corretos no longa de Henrique Goldman, mas é preciso que se diga que os erros cometidos por ele saltam à vista quando nos referimos ao filme como um todo. Apesar deste ser seu quarto trabalho, Goldman mostra-se inexperiente em vários momentos. Sua falta de ousadia para com uma história tão polêmica é decepcionante, uma vez que muito pouco dos argumentos e possibilidades que lhe foram concedidos não foram bem aproveitados. Na realidade, o filme já começa mal, com cenas de comicidade desnecessária que envolvem os próprios brasileiros envolvidos no exterior. Neste ponto, o roteiro entra em uma discussão errônea è respeito da imigração. Em muitos momentos, o espectador tem a sensação de estar assistindo a um documentário familiar, devido à presença constante de planos médios fechados, característicos de filmes do gênero.
Goldman não é feliz na primeira meia hora do filme, mas ele também é responsável pela mudança que faz com “Jean Charles” fique mais interessante e os erros menos abrangentes.
Com o passar dos minutos, a discussão sobre a imigração e a xenofobia fazem com que o preconceito sofrido por estrangeiros em Londres fique ainda mais explícito. É possível perceber, com naturalidade, que alguns dos personagens do filme são de fato imigrantes brasileiros que residem na capital britânica, tamanha é a simplicidade com a qual eles compõem seus personagens. Uma escolha inteligente do diretor, por sinal. Isso aumenta o grau de veracidade do texto e melhora a imagem que o artificialismo do início passou ao espectador.
No que diz respeito ao restante das atuações, a surpresa fica por conta do inacreditável Luis Miranda, que interpreta um seus amigos com quem Jean divide o apartamento. Vanessa Giácomo, apesar de ter sido deixada de lado pelo roteiro durante uma parte do filme, apresenta a força necessária de sua personagem quando lhe é exigido. Evidentemente, é o sempre competente Selton Mello quem garante o sucesso do filme. Ele, que na época do lançamento de “Jean Charles” esteve em cartaz com mais dois ou três trabalhos, entrega mais uma ótima atuação. Além de um dos mais ativos do cinema nacional, o ator é também um dos mais competentes e completos intérpretes que o nosso país já viu.
O roteiro se apoia muito bem na história. Ainda que se perca em discussões desnecessárias no início do filme, o texto é capaz de introduzir uma boa reflexão sobre o preconceito dos europeus para com os imigrantes. Isso acaba sendo até mesmo uma justificativa, embora nem um pouco correta, para o que aconteceu por lá quando Jean foi morto. O final, obviamente, é o melhor momento do filme, onde Henrique Goldman surpreende e finaliza a cena com maestria. A câmera em primeira pessoa (na visão de Jean Charles) é uma sacada inteligentíssima, embora os preparativos para o momento mais aguardado do filme tenha sido feito de forma subjetiva (as imagens já vistas anteriormente no trailer do filme anunciam o que está por vir). Poderia muito bem ter acabado aí, mas o roteiro não pôde deixar de acrescentar algumas cenas com as imagens do corpo do brasileiro chegando no país.
Enfim, Jean Charles é um filme interessante, que conta com boas atuações. O roteiro e a direção equivocada de Goldman, com mais erros que acertos, comprometem este que poderia ser um filme muito melhor. Apesar dos problemas, é um filme que merece ser visto, principalmente por nós brasileiros, que vimos de perto a tragédia ocorrida no metrô de Londres, em julho de 2005.
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