Com três anos de atraso, À Prova de Morte chegou para comprovar o lugar de Tarantino como um dos diretores mais indescritíveis do cinema recente.
Só tendo visto algumas das obras do mestre Quentin Tarantino para entender a significância da frase acima. Ele é um dos poucos cineastas que fazem filmes impossíveis de serem classificados em gêneros. Depois de ter assistido a filmes como Pulp Fiction - Tempo de Violência, um dos melhores trabalhos cinematográficos dos anos 90, não fica difícil dizer que Tarantino é também um dos diretores mais talentosos da atualidade. Kill Bill Vol. 1 e 2, dois filmaços com as sempre deliciosas tarantinices e Bastardos Inglórios, a mais recente obra-prima do diretor e talvez o melhor filme de 2009, são alguns trabalhos dele que servem como prova dessa afirmação. Mas ouso dizer que "Death Proof" é a obra mais sincera de toda a filmografia do mestre do cinema independente atual (só pra retificar o óbvio).
Desta vez, Tarantino entrega um filme com uma dose extra de tarantinices. Para os fãs, um presente e tanto. Trata-se de um longa que prima pelo gosto do espectador. Ou seja, aqueles que sempre curtiram o cinema violento e independente de Quentin não deixarão de gostar deste também. Parece que há muito o que dizer sobre "À Prova de Morte", mas a verdade é que tudo o que poderia ser dito à respeito do filme não deve ser feito por meio de palavras, mas sim pelo simples e prazeroso ato de assisti-lo. Desta forma, pouco me resta a não ser listar as maiores qualidades deste, que é um trabalhos mais eloquentes e sensacionais do diretor (sem spoilers, é claro).
Em "Death Proof", tudo aquilo que já havia sido visto nos filmes anteriores do cineasta aparece com uma dose extra de êxtase. Tarantino cria um roteiro onde as figuras femininas se sobressaem às masculinas, característica que foi destaque também em "Kill Bill". Aqui, ele continua com seu leque de criatividade à serviço das homenagens ao cinema de sempre e de uma trama onde muito pouco interessa a quem está assistindo, e nada do que acontece faz muita diferença no que ainda está por vir. As boas e velhas tarantinices já mencionadas aqui estão presentes nos longos diálogos, no humor inserido com exímia competência no meio da violência explícita, nos enquadramentos fantásticos que o diretor coloca à disposição da variação de cores, que passam do preto no branco para uma explosão de amarelos, vermelhos e laranjas das mais diversas tonalidades. De fato, o contraste abrupto misturado ao toque especial no tratamento de imagem só comprovam que o diretor estava realmente disposto a realizar com "Death Proof", não uma obra-prima, mas sim um trabalho digno de tudo aquilo em que ele acredita. Se em "Bastardos Inglórios" a arrogância de Tarantino foi tida como uma tentativa extremamente bem sucedida de criar a sua obra definitiva, em "Death Proof" ele queria apenas mostrar a que veio. O cinema de Quentin já havia sido construído anos antes, mas aqui sim ele tem a sua real comprovação.
É difícil citar cenas onde as tarantinices se mostram ainda mais eficazes. São tantas! Mas não é justo deixar de mencionar a fantástica sequência da lap dance, ou então a cena do choque entre os carros (tão bem filmada que o espectador não ousa piscar), ou a perseguição, o final e as sempre bem vindas passagens onde Tarantino imprime a feminilidade deliciosa nas suas personagens. Enfim, "Death Proof" é mais um filme do diretor onde fica impossível escolher a melhor cena de todas.
Mas o longa ainda conta com uma outra constante dos trabalhos de Tarantino: a trilha sonora magnífica. Apesar das sábias escolhas (muitas vezes o diretor seleciona músicas desconhecidas do grande público), parece que cada canção foi composta especialmente para "Death Proof", de tão bem inseridas que foram dentro da narrativa. Os destaques dessa vez ficam por conta de "Hold Tight", "Baby It's You", "Chick Habit", entre outras.
Sendo assim, não me resta mais nada a dizer sobre À Prova de Morte, longa de 2007 que chegou aos cinemas brasileiros somente agora. Demorou (muito!), mas depois de conferir é perfeitamente possível dizer que valeu a pena esperar. Sim, eu poderia ter feito uso de meios alternativos para assistir ao filme, mas a experiência de ver um Tarantino em tela grande é indescritível. Tão indescritível quanto o próprio Quentin Tarantino. Afinal de contas, o gênero "tarantinesco" já provou ser um dos mais divertidos e sensacionais do cinema recente.
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