O filme “As Vantagens de Ser Invisível” é um jeito sensível de mostrar o lado dos que se veem deslocados dentro das cercanias da escola. E se tratando dos Estados Unidos o binômio ‘loser x winner‘ agrava muito mais pelo bullying que sofrem. Algo que pode gerar traumas que duram a vida toda. Mas o filme não fica apenas dentro das escolas. A trama adentra na intimidade dos lares desses jovens. Foco onde muita das reações diante às adversidades da vida começa. Já que cada um irá reagir de um jeito próprio. Ou até se achando original mesmo imitando o comportamento de um grupo específico: as “tribos”. Muita das vezes pais ou responsáveis não percebem certos sinais anterior a um fato, acabando por responsabilizar ao incidente o comportamento do jovem. Quando muito foi um jeito torto de trazer à tona um antigo trauma. Se faz necessário estar atento.
Criado num lar feliz, o jovem Charlie (Logan Lerman) está para enfrentar um novo desafio: seu primeiro ano numa escola de ensino médio. Extremamente tímido. Ainda saindo da perda de seu grande e único amigo até então. Então até para se proteger ele estabelece como meta contar os dias que faltam para terminar aquele primeiro ano letivo. Como também tentar ficar invisível aos olhos dos demais. Principalmente dos valentões. Mas que não deixa de doer o fato de se ver sozinho na mesa do refeitório. Fato esse que o colocaria numa exposição maior e então chamando a atenção de todos para si se não fosse por outros continuarem a bola da vez. O que acaba por dar a Charlie uma sensação de alívio. São as incongruências da vida!
Um desses grupos fazem questão de chamar para si todos os holofotes. Não são dos nerds, nem tampouco dos atletas, ficando “no meio”. Sendo que o que os deixam um pouco “protegidos” de não se tornarem saco de pancadas dos valentões da escola é o fato dos pais serem ricos. Alguns deles até já sabem o que querem ser no futuro, com isso também se sentem nessa contagem regressiva. Claro que por serem mais “safos” não dão o mesmo peso que Charlie. Esse pequeno grupo se auto intitulam de: os deslocados. São eles:
- Sam (Emma Watson) que é tida como vagava pelos valentões. Mas assim como Charlie, Sam também traz um segredo do passado. Algo que deflagrou para o comportamento atual.
- Patrick (Ezra Miller), meio irmão de Sam. Alguém que mesmo assumindo muito bem sua sexualidade, tenta ocultar com quem mantém um relacionamento amoroso. Como também não se importa de o chamarem de bicha, mas não tolera que o chamem de “ninguém” e por algo que aconteceu no passado. O que o leva a se fazer notado por todos. Usando até do personagem que encena numa versão da peça teatral “The Rocky Horror Picture Show“.
- Mary Elizabeth (Mae Whitman) tenta um meio termo entre a doutrina budista com um estilo punk com um jeito patricinha de ser. Ela vai dar um nó na cabeça de Charlie.
Para ser aceito no “Os Deslocados” não há os testes de força/burrice tão comuns nos demais grupos. Sam viu nele algo especial, muito mais que a inteligência. Ainda sem mesmo ter a certeza de estar se apaixonando, por sua má fama Sam não se sente à altura do amor de Charlie, se contentando em ser apenas amiga. Para Patrick, o carimbo no passaporte de Charlie veio com um ato tão igual aos brigões, mas por uma rebeldia com causa. O que de um jeito meio torto sela a amizade do trio: Sam, Charlie e Patrick.
Charlie sabe que serão novas pressões nessa nova fase. Com isso sabe que não pode perde o foco, nem o controle sobre si próprio. Usando para esse tento mais a razão do que a emoção. Mas é por justamente não saber como lidar que termina não ficando tão invisível como gostaria. Mesmo assim, com todos os prós e os contras, com todas as vantagens e desvantagens, com certeza esses “1385 dias” ficará como um divisor de água na vida dele e de mais alguns. Sem esquecer de que em se tratando do universo escolar, também há aquele professor que fará a diferença na vida do protagonista. Personagem de Paul Rudd, Mr. Anderson, o professor que lhe dará o foco para se tornar um escritor.
Com uma Direção brilhante de Stephen Chbosky que também assina um Roteiro impecável – adaptado de um livro de sua própria autoria -, com um Elenco afinadíssimo, com uma Trilha Sonora soberba, o filme “As Vantagens de Ser Invisível” consegue fazer a diferença entre muitos outros que abordam o universo dos não tão mais adolescentes. Com temas que mesmo doloridos ainda fazem parte do mundo fora da telona o que lhe confere ponto positivo. Abordando com muita sensibilidade o bullying, a pedofilia, os traumas, a violência entre os jovens, a timidez, a carência afetiva, a inveja, o se sentir um loser, a homossexualidade, pais relapsos, suicídio, professores como verdadeiro mestres, ser calouro… e claro, o primeiro amor. Enfim a guerrilha urbana e emocional que muitos jovens se veem obrigados a vivenciar, e tentar sobreviver incólume. Não deixa de ser um rito de passagem!
Por: Valéria Miguez (LELLA).
Alguém vai ler tudo isso?