Amo as histórias da Velha Escócia! Elas me remetem as da Távola Redonda, entre outras. Mas em “Valente” em vez de um grande herói, temos uma heroína que trilhará um árduo caminho em um período de sua vida. Um momento de transição onde seu destino parecia estar traçado. E que ela quis mudar. Só que sem maturidade ainda ao forçar um como desejava, termina metendo os pés pelas mãos, restando-lhe tentar consertar o seu erro.
A Animação “Valente” é belíssima! É mágica, de nos levar para dentro dela para acompanhar mais de perto toda a trama. Com certeza agradará a diversos públicos. O qual eu destacaria um mais específico: os que gostam de traçar um paralelo entre história e personagem com a simbologia voltada à Psicologia. Em especial: os arquétipos. Onde em vez de um mergulho na lendária Brumas… aqui será no coração da Floresta Negra. A jovem em questão terá que lidar não apenas com a sua própria Sombra, mas com outras que desencadeou nesse atalho.
Ela é Merida, a primogênita do Rei Fergus e da Rainha Elinor. Ele, um cara muito tosco, mas dono de um enorme coração. Que além de muito carinho, transmitiu a filha o gosto por aventuras. Além de incentivá-la nas artes tradicionalmente masculinas. Merida além de amar cavalgar, é talentosíssima no arco e flecha. Por conta disso é muito mais ligada ao pai do que a mãe. Por repelir tudo o que vem da Rainha, será o principal motivo de se deixar levar pela emoção do momento. Jung já dizia que o que nos incomoda no outro deveria nos ajudar a nos conhecermos melhor, o que seria um caminho para uma elevação espiritual.
Merida já trazia em sim uma certa valentia não condizente às mulheres da época. Ainda em criança não desgrudou os olhos da luta entre seu amado pai e um grande urso negro. Assim, até inconscientemente esse ser a acompanhou até esse seu grande momento crucial. Mesmo ele já tendo se tornado um grande inimigo do povo: incorporado ao inconsiente coletivo. Lenda e realidade se mesclavam na cultura local.
“Valente” também me fez lembrar de dois filmes em especial. Um, o “Alice“, de Tim Burton. Vendo, entenderão o porque. Contar aqui seria trazer spoiler, e eu não quero quebrar o encantamento ao assistir esse filme. O outro foi “A Viagem de Chihiro“. Tal e qual essa outra personagem, Merida se encontrava insatisfeita com a mudança em seu futuro tão próximo. Ambas, ao seguirem por um atalho, perceberam que não seria por aí que mudariam o próprio destino. Para alcançar o livre arbítrio se faz necessário primeiro se adequar, estudar a questão, e então ter a certeza em querer traçar seu destino.
Acontece que nesse atalho escolhido como fuga, ou por ganhar um tempo maior, feito de um jeito louco, acabou alterando o destino de outros drasticamente. Iriam enfrentar suas próprias Sombras, querendo ou não. Com isso, não teriam como sair facilmente de algo bem tenebroso. E o que era pior, provocado por Merida. Ela então precisava correr contra o tempo. Provar que era de fato valente para evitar uma tragédia maior. Mais! Tentar também conciliar as duas heranças recebidas de seus pais, quer fossem genéticas ou culturais, para então assumir de fato a sua personalidade, a sua maturidade. Afinal, em seu futuro estaria o trono daquele reino.
Para a elegante e fina rainha, Merida estava entrando em idade de ser cortejada por futuros pretendentes. Mas pelo temperamento da filha, a rainha quis adiantar o destino dela. Com isso, ao impor como fato consumado, lhe faltou tentar um diálogo maior com a filha, em ouvir o que ela queria para si. E foi para fugir desse casamento arranjado, que essa menina de cabelos cor de fogo levou a todos quase a beira de um inferno. Quase, porque também foi o período que mais levou as duas – mãe e filha – ficarem mais próximas, e durante essa idade tão difícil que é a adolescência. Cabendo então a mãe reconhecer que Merida era uma rebelde com causa.
São ainda poucos os filmes a mostrarem personagens femininos memoráveis e adoráveis. “Valente” veio para fazer parte dessa pequena e seleta lista. Filmaço! De querer rever. Mesmo sendo ele perfeito até com final, em mim deixou um querer ver novas aventuras com essa valente mocinha.
Por: Valéria Miguez (LELLA).
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