Estória demais, em roteiro de menos?
Fiquei meio sobre impacto ao término do filme. Com uma sensação de ter “cochilado” durante a projeção. Mas aconteceu justamente o contrário. O thriller prende a atenção o tempo todo. Então me veio a pergunta acima. Estória tinha sim, bastante. Mas faltou tudo ficar amarradinho.
Se não, vejamos! O cara é um viajandão! Claro que para quem escreve, dar asas a imaginação é mais do que produtivo. Acontece que esse do filme, Jacob Falk (Jens Albinus), se encontra em meio a um bloqueio criativo. De não conseguir colocar em texto, toda a sua estória. Mais! O Produtor está no seu pé. Seu prazo limite está se esgotando. Ele tem até uma maquete do cenário. Tem os atores. Tem já toda a equipe de iluminação… Todos, tudo esperando pelas Falas, pelo Roteiro. Meio que “8 1/2″, de Fellini. Então Jacob ao se deparar com umas fotos, coloca toda as suas energias nelas.
Pediram a ele que fizesse um filme de guerra que pesasse na alma. O que me fez lembrar de “Gallipoli“. Mas quando o filme traz esse assunto, levanta alguns pontos. Um deles, seria em mostrar que mesmo num país “nórdico” há uma de torturar com crueldade física seus presos, e pelos militares. O que me fez lembrar de “A Vida Secreta das Palavras“, onde um tipo de tortura e por quem fez, além de ter tudo a ver com o contexto do filme, quandoquando ele vem à tona, fica sim a ideia de que nos machucam saber desse lado negro da História da Humanidade.
Mas nesse, “Tudo Ficará Bem“, quem é o portador de tais fotos é alguém de origem muçulmana, que foi recrutado por falar árabe, e a tortura é feita por soldados dinamarqueses. O que levanta a dúvida de que esses soldados também entraram nas guerras no Oriente Médio. Ou em que parte eles de fato participaram.
Outra coisa que intriga é que: até onde isso é um fato no filme. Se não se passa de viagem do Jacob. Como se não bastasse essa estória em paralelo, há a da vida particular dele, que também parece ter algo fictício: já que não há uma ligação entre a esposa e a irmã de Jacob. Como se uma não existisse, ou ambas não existissem. Agora, a cena onde ele mais parece ser um viajandão, é a dele comendo uvas.
A tal maquete com as cenas do filme da estória, não é apenas uma ilustração do início do filme real. Ela é real no filme: Jacob a manipula. Nela, há um corpo estendido no asfalto. Na realidade do filme, serão dois, cada um num contexto. Sendo que um, a cena em si ficaria como: a vida imitando a arte? Porque não dá para aceitar como: um dos seus problemas, acabou!
E onde entraria o significado do título original – Tudo se torna bom de novo (Alting bliver godt igen)? O título dado aqui no Brasil – “Tudo Ficará Bem” -, denota que: haja o que houver, tudo entrará no eixo. Mas pelo título original, há o significado de finitude de algo para algo florescer. Mas pelo final, causa espanto esse desprendimento tão cedo. Se essa parte foi de fato real na vida de Jacob, ele é bem viajandão. Se foi ficção, também.
Parece confuso, e é! “Tudo Ficará Bem” é daqueles filmes onde se deve prestar atenção ainda nos créditos iniciais. Como ir juntando as peças de um quebra-cabeça onde não se conhece o resultado final. Como Thriller, é 10! Como Drama, é loucura demais, dai também é 10! Pela atuação de Jens Albinus, também é 10! E até pelo final que foge do padrão comum. É um filme de querer rever! Parabéns para o Diretor, que também roteirizou, Christoffer Boe. Uma longa vida cinematográfica para ele!
Por: Valéria Miguez (LELLA).
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