“É tão bonito quando a gente pisa firme
Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos
É tão bonito quando a gente vai à vida
Nos caminhos onde bate, bem mais forte o coração“.
Segundo filme que vejo de Fatih Akin. O anterior, foi ‘Do Outro Lado‘. Que eu também recomendo. Agora, ambos nos deixa uma emoção oposta a da outra. Enquanto ‘Do Outro Lado’ fica uma tristeza por algo que perdemos, e não tem mais como mudar… ‘Soul Kitchen‘ é um libelo ao que ainda podemos mudar, até com certas mudanças avassaladoras em nossas vidas. Mais do que não desistir, é que se tem que querer ir atrás do sonho. Esse é daqueles filmes que nos faz sair da sessão: leve, dançando, cantarolando… E até querendo dar uma Chef na nossa própria cozinha. Mesmo que seja para fazer uma refeição rápida com o que se tem na geladeira.
Em ‘Soul Kitchen‘ temos um jovem com raízes turca, mas que abraçou a Alemanha como sendo a sua verdadeira pátria. Assim, além de tentar se adequar a realidade local, meio que chama para perto de si, outros na mesma situação. Ele é Zinos Kazantsakis (Adam Bousdoukos). De um velho galpão, que comprou, numa zona decadente de Hamburgo, fez um restaurante, que nomeou de Soul Kitchen – soul, como a música. Primeiro, ainda bem que não traduziram o título do filme no Brasil. Depois, o Soul é um ritmo onde tudo deve fluir junto: melodia, voz, instrumentos, artista… E acompanhando o filme, vemos que é isso que Zinos quer para o seu restaurante: que todos se sintam integrados, estando ali. Tanto, que nem se importa de usarem um espaço do galpão para ensaio de uma banda.
Mas de repente a vida de Zinos parece ir de ladeira abaixo. Os clientes locais, ficam na mesmice de só querer os mesmos pratos. As despesas estão maiores que o caixa. Para ainda lhe desconcentrar, tem a namorada, Nadine Krüger (Pheline Roggan), indo trabalhar em Xangai. O seu irmão, Illias (Moritz Bleibtreu), que lhe pede um emprego, para poder cumprir sua pena, saindo diariamente da prisão. Mas Illias não quer trabalhar. Quer continuar na maladragem, nas apostas e jogos. Zinos consegue um Chef um tanto excêntrico: Shayn (Birol Ünel). De alma cigana, Shayn gosta de Zinos, e ensina umas receitas básicas, mas que pelo paladar, farão toda a diferença, isso se a clientela aprovar.
Como se não bastasse a pressão, Zinos encontra com um amigo de escola. Esse, Neumann (Wotan Wilke Möhring), tem uma imobiliária. Mas tem também, um outro tipo de trabalho, e ilícito. Neumann se interessa pelo restaurante. Mas precisamente, seu foco de interesse é o terreno. Assim, vai jogar sujo para conseguir a compra do Soul Kitchen.
E não acabou não! Tem mais! Além dos Impostos atrasados, o restaurante terá que passar por reformas, por ordens do Fiscal da Vigilância Sanitária. Zinos, ainda ganha uma baita dor lombar. Sem plano de Saúde, Zinos conhece Anna (Dorka Gryllus), uma Fisioterapeuta. Que como as dores de Zinos se intensificaram – após carregar nas costas, Lucia (Anna Bederke), sua garçonete, que apagou de tanto beber -, Lucia leva Zinos a um Knochenbrecher (quebrador de ossos). Onde ficamos na dúvida se rimos, ou se sentimos a dor junto com ele. Essa cena me fez lembrar do Conde Joffrey de Peyrac, da saga ‘Angélica – A Marquesa dos Anjos’, de Anne e Serge Golon.
Assim, entre incêndio, prisões, despejo, traição, dores, leilão… Zinos terá que decidir onde está de fato a sua alma. E que, como falei no início, ficamos de alma leve, após o filme. Até por nos mostrar mais de um renascimento.
A Trilha Sonora também é excelente! Assistam até os créditos finais, por ele vir como um complemento ao filme.
Por: Valéria Miguez (LELLA)
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