PINA + Wim Wenders + um 3D Mágico = O Nascimento de um Clássico.
“Tem coisas que nos deixam sem palavras. E tem coisas que as palavras não dão conta de dizer. É aí que entra a dança.” (Pina Bausch)
Como tinha referências para assistir “Pina” em 3D, é por esse fator que inicio. Pelo lindo cartaz ficava a ideia de que o uso dessa tecnologia ficaria no efeito de respingos de água na platéia. Algo por aí. Mas Wim Wenders foi muito além, e brilhantemente! Desde 2009, com o sucesso de bilheteria de “Avatar”, houve uma febre de 3D, mas pouquíssimos filmes usaram esse recurso a ponto de valer a pena. Até a presente data, para mim, “Pina” é o quarto filme a usar com inteligência o 3D; os demais foram: “Avatar“, a Animação “A Lenda dos Guardiões” e “A Invenção de Hugo Cabret“. Em “Pina” Wim Wenders usou o recurso colocando o espectador num lugar privilegiado num espetáculo de Dança. A teatrilização de um evento desse porte, com o 3D deixa a impressão de estar ao vivo assistindo a um Balé Moderno. E realmente como se ficássemos num lugar mágico. Ora vendo de pertinho o suor no corpo do bailarino, ora sentido a força para dar a leveza ao movimento… A magia do 3D em “Pina” inicia com um convite para adentrar nessa Companhia de Balé Moderno, e de emocionar! Contar o que é, seria um spoiler que lhes tiraria a surpresa nesse encantamento. Bravo Wim Wenders! O 3D fez mesmo a diferença!
“Conhecer Pina foi como encontrar uma linguagem antes de aprender a falar. Assim ela me deu um modo de me expressar. Um vocabulário.”
O Documentário “Pina” conta de maneira ímpar parte da carreira profissional de Pina Bausch. Coreógrafa, dançarina, Pedagoga de dança e diretora de balé em um Teatro na Alemanha, o Tanztheater Wuppertal – que depois foi acrescido: Pina Bausch. E é justamente com essa sua Companhia que ficamos conhecendo Pina, a profissional e um pouco do lado pessoal, pelos depoimentos dos bailarinos. Cenas que me emocinou, também!
“O ballet clássico é para jovens. O que mais me fascina na dança contemporânea é a possibilidade de interpretar a nossa própria idade“. (Mikhail Baryshnikov)
“Pina” me fez lembrar de alguns filmes. Sendo que dois deles por também terem usado a dança como linguagem. Um, foi “Fantasia”, da Disney. E quando eu vi a cena com o hipopótamo, sorrindo pensei: “Minha intuição estava certa!” O outro, foi um que revi há pouco tempo, o “O Sol da Meia-Noite“, onde a dança moderna também é um coadjuvante de peso. Mas mais em cima de que tanto o personagem, quanto o bailarino Baryshnikov foi em busca: de uma dança que não ficasse presa a um corpo jovem. Claro que em “Pina” o fato de trazer também os dançarinos com mais idade teve o peso da homenagem. Mas numa atualidade onde a efemeridade nos leva quase a perder o bonde da História, é aplaudir como Wim Wenders conduz todos eles para contar essa história. Aqueles que conviveram por mais tempo com Pina, mostraram com a marca do tempo, que a dança fala por si só. Que a linguagem corporal transcende, já que ela vem de dentro.
“O mais ínfimo detalhe importa. É tudo uma linguagem que você pode aprender a ler.”
Mesmo para mim que não conhecia a sua arte, me vi envolvida com todas as coreografias. Claro que sendo uma Dança, se pensa logo numa música como mestre de cerimônia, mas aqui não, ela vem com um coadjuvante que até pode ser trocadas, receber outras músicas do país de origem do dançarinos. A Trilha Sonora é formidável! De em certos momentos querer seguir o ritimo. Em sorrir, ao ouvir “Leãozinho”, do Caetano Veloso. De ficar com lágrimas, na coreografia da jovem com o rosto de batom. De bailar discretamente, com o som caribenho. E num solo, me fez pensar no filme “O Artista“. Vendo o filme, identificarão a cena. Ela é ótima!
“Eu não investigo como as pessoas se movem, mas o que as move.” (Pina Bausch)
As coreografias de Pina Bausch fazem uma junção de Dança e Teatro, onde os poucos objetos cênicos usados fazem frente ao corpo de baile. Os levando a se conhecerem, a vencerem seus receios, a extrairem de si a força do sentimento. E em várias escalas: da solidão à alegria num encontro entre amigos, permeando com os relacionamentos a dois. Pina também usa elementos naturais como a terra e a água, ou como um grande granito. Natureza bruta que entra em comunhão com a natureza crua do dançarino. O 3D nos leva a sentir a pulsão desse, e nesse enlace. Realmente esplêndido!
O Documentário “Pina” já nasceu um Clássico. Que por conta disso deveria ser visto por muito. Por outro lado, pela temática, muitos não irão apreciar. Como o senhor no meu lado que bocejou várias vezes, a ponto de me fazer dar um grande bocejo, mas que me fez foi não ficar mais sucetível a ele. Como uma barreira invisível entre nós dois. Dai em diante foquei somente no filme. Vale a pena ir assistir em 3D! E que me deixou vontade de rever. Mas ai será sem o 3D mesmo, já que quem distribuiu o filme no Rio de Janeiro, resolveu elitizar: exibindo em um ponto nobre de Cinema. Já numa 4ª semana, sala lotada. Creio que o mesmo se daria em outros bairros.
Wim Wenders diz que a Pina gostava também de incorporar elementos externos e pertencentes aos locais em suas coreografias. Assim não sei se foi proposital, ou mesmo se foi para incorporar um merchan no Documentário. Porque uma coreografia num entrocamento ficou irresistível não olhar para uma placa enorme do MacDonald’s ao fundo. O que me fez lembrar da faixa da Coca-Cola em “Adeus, Lênin!“. Como também, caso não tenha sido por merchan, qual seria o significado de um símbolo de Fast Food no contexto da tal dança.
Então é isso! Pode ser que outros mais também irão trazer outras Danças, Balés Clássicos em 3D, mas os créditos serão para Wim Wenders: o pai dessa ideia sensacional. E quem sabe num futuro barateando as televisões com 3D, muito mais terão acesso a filmes como esse. Porque o 3D caiu como luva para esse tipo de espetáculo. Assistam e comprovem. Até porque gostando ou não de Dança Contemporânea, ao se darem essa chance, verão um Clássico. De tudo, não sairão indiferentes.
Por: Valéria Miguez (LELLA).
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