Talvez haja dois critérios básicos para se tornar um grande escritor: talento com as palavras e um olhar atento para o que acontece ao redor. Para então conseguir traduzir num texto o que sentiu, o que viu, o que imaginou, o que vivenciou… Deixando o pensamento correr livre. Sem cercear até mesmo a imaginação. E quando conta a história num longo texto terá também que manter o interesse do leitor até o final. Que mesmo escrevendo um breve conto se faz necessário também encantar quem o ler. Num misto de admiração e surpresa na leitura de todas aquelas palavras impregnadas de carga emocional.
Saber escrever bem até pode ser até pode ser um misto de constância com a escrita e técnicas de redação. Mas sobre tudo há o de se gostar de escrever. Descrever em palavras o pensamento. Em narrar a emoção da historia vivida ou imaginada. Onde muita das vezes mesmo tendo um talento nato ele pode ficar adormecido. Onde só ira acordar com um fator desencadeante. Que pode ser vindo de outra pessoa, mas em geral o estalo vem de algo vivido pela própria pessoa. Seja como for deve dar o primeiro passo. E mais outro. Escrevendo sempre, e principalmente quando der a vontade. Podendo até ser pequenas anotações. Onde a própria crítica seja mais como um incentivo a ser aperfeiçoar na escrita.
Agora, quem ou o que define quem é um grande escritor a ponto de colocá-lo no topo dos clássicos? A história em si? O número de leitores? A quantidade de palavras em cada livro? A continuidade nas escritas para não ser um autor de uma única obra?
No filme ‘As Palavras‘ temos três formas distinta de escritores: o verdadeiro autor da obra, o que se apropriou da obra e o que conta a história desses dois. Deixando para quem assiste separar a ficção da realidade. Ou julgar ou se solidarizar com eles.
Rory Jasen (Bradley Cooper) trabalha em uma editora de livros alimentando um sonho em um dia ter o seu próprio livro publicado. Mas passar o dia naquele mar de palavras em nada lhe ajuda como inspiração. Falta talento? Pode ser. O tempo vai passando e o sonho virando um pesadelo. Somado a essa frustração lhe vem a realidade das contas a serem pagas no final do mês. Sua esposa Dora (Zoe Saldanha), um pouco alheia ao real drama de Rory, mas por ele não lhe confidenciar, tenta incentivá-lo. Até o leva a uma pequena loja de antiguidades e lhe dá de presente uma pasta de couro. Mal sabendo ambos que aquela peça antiga trazia escondida um tesouro. Tal qual a lâmpada mágica era o sonho de Rory virando realidade. Pois ao limpar a tal pasta ele encontra um maço de folhas amareladas pelo tempo. Ele então ler todo o texto que o deixa fascinado. E logo se vê digitalizando todo o texto. Copiando palavra por palavra.
Ainda alheia a agora ao novo dilema em que se encontra o marido Dora ler o texto achando ser dele. Pronto! Era o incentivo que faltava a Rory. Então ele apresenta como sendo seu ao seu chefe. Que publica o livro. Virando um sucesso em vendagem, crítica e prêmios. Só que o tempo vai passando e com ele a cobrança de um novo livro. De uma outra grande história. Que também não vem. Mas dessa vez em vez de encontrar um novo texto surge o tal gênio da lâmpada. Ou seja, o verdadeiro autor da obra. Personagem do sempre ótimo Jeremy Irons. A princípio tudo que impõe a Rory que ouça toda a história. Como todas aquelas palavras surgiram. Ele vivenciou tudo aquilo, e soube contar em palavras.
“Palavras apenas / Palavras pequenas / Palavras“
Não há como voltar atrás depois de ter feito uma escolha. Até pelas consequências desse ato. Ainda mais quando houve perdas irreversíveis. Foram perdas e ganhos na balança do destino. É tentar se redimir? Buscar por uma expiação ou por uma redenção? Culpabilizar o forte e egoísta desejo de se tornar um escritor? Mas aí não deveria ter seguido o caminho solitário para não deixar na solidão os entes mais próximos? Pois como bem disse Saint-Exupéry “Você se torna responsável por aquilo que cativas.“
Se para um ao contar toda a história seria como exorcizar antigos fantasmas, para o outro ao ouvir seria como ficar frente e a frente com os seus ainda lhe assombrando. E para quem conta toda essa história que sentimento quis tirar dali?
Eu gostei do filme! Foram palavras que resultaram numa bela história. Mostrando que Direção e Atuação possuem intimidade com as palavras. No mínimo terão um exercício para que quem saiba um dia venha se tornar um escritor. Nota 10!
Por: Valéria Miguez (LELLA).
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário