Assim como Jung, David Cronenberg transpôs o seu limite de segurança ao nos trazer essa história. Se para um ator é prova de potencial quando interpreta personagens tão distintos, pode-se esperar que o mesmo também aconteça com um Diretor: quando ele faz uma leitura tão diferente do que vinha fazendo até então. Cronenberg muda o seu método e nos leva numa viagem belíssima entre Zurique (Suiça) e Viena (Áustria) para mostrar o início e o fim de uma amizade que ainda hoje dá o que falar: entre Jung e Freud. Tendo como elo a então paciente Sabina Spielrein. Meus aplausos a Cronenberg! É um filme de querer rever.
"Um Método Perigoso" não é apenas para os discípulos, os apaixonados, os fãs, os admiradores desses dois Mestres, já que o filme não é muito didático. Digo isso porque muitos podem deixar de ver o filme achando que terá muitos termos médicos. Se consegue entender mesmo quando Jung clinica Sabina, como também nos diálogos ou nas leituras das cartas entre Jung e Freud. Aliás, o Roteiro prende tanta a atenção, que mal dá tempo de se deleitar com o esmero do cenário, das vestimentas, das paisagens... Fotografia deslumbrante. E mesmo a trama focando muito mais em Jung, há uma visão impessoal entre ele e Freud. Cronenberg deixa para que o expectador continue com o seu gostar por cada um deles.
Os Personagens:
- Os que seguem os pensamentos freudianos podem não ver, por exemplo, a arrogância desse, a ponto de se incomodar com a riqueza de seu então mais dileto discípulo. Freud tinha que ser mais prático, mais direto no que estava implantando. Pela personalidade, eu diria que se tivesse mais dinheiro também teria saído da sua zona de conforto. Se uniria o se achar superior com o não ter que dá satisfação a ninguém. Bem, não há demérito em suas teorias, que como sua bandeira diz - comprovadas. Como não sou estudiosa em Psicanálise, ela sempre me remete aos filmes de Woody Allen (Amo!). Somado ao que vi nesse filme, continua a impressão que o que a Psicanálise faz é atestar o que a pessoa tem, mas dando a ela uma massagem de ego. Não mete o dedo na ferida!
- Jung, por conta do dinheiro, pode sair da zona de conforto do método adotado até então. O dinheiro da esposa deu a ele mais tempo para outros voos. Suas pesquisas o levaram a até trair a esposa, com a Sabina. Esse relacionamento íntimo, pelo menos para mim, não se deu num nível sado-masoquismo. Mesmo que a tara da Sabina o levasse a isso. Acho que Jung quis conhecer o seu lado de prazer carnal, explorando o seu íntimo. Mas o que extraiu mesmo dessa relação com Sabina, foi algo como uma conversa com um lado feminino: algo como um ânima universal. Jung teve nelas, e com elas - esposa e amante -, o apoio e a ajuda em seu crescimento profissional. Se a máxima diz que por trás de um homem brilhante há uma inteligentíssima mulher, com Jung houve duas.
- Sabina Spielrein tinha uma inteligência nata. Diria mais. Que a sua intuição tinha um dial preciso na maior parte das vezes. Ao ser tratada por Jung usando "a cura pela fala", a psicanálise, que a ajudou a se autocontrolar, também deu asas a sua imaginação que depois pode então dar um sentido prático a essas ideias. Mas Sabina perdeu um pouco o foco pela paixão por Jung. Ela poderia ter visto que quem administrou esse tratamento fora um profissional nada ortodoxo, logo não deveria ter colocado todos os créditos da sua cura no método freudiano. Até porque Jung já estava implantando um método próprio, mesmo ainda não se dando conta. E a bem da verdade, por um clima ainda machista, ambos enriqueceram seus estudos por observações dela.
As Performances:
- Michael Fassbender foi uma escolha mais que perfeita. Ele imortaliza na tela Carl Gustav Jung. Bravo! Seu Jung veio para ficar na memória afetiva até dos apenas cinéfilos.
- Viggo Mortensen já desempenhou, e bem, outros personagens com o Cronenberg, como em "Marcas da Violência" (2005) e "Senhores do Crime" (2007). Nesse aqui ele até consegue levar bem o seu Freud, mas não a ponto de arrebatar. Algumas vezes meus olhos batiam no peito dele, meio que em busca de uma estrela de xerife do Velho Oeste. Ficou bonachão.
- Vincent Cassel sim, marcou uma bela passagem. A ponto de querer vê-lo num filme com o seu Otto Gross como protagonista.
- Keira Knightley mais parecia um clone da Winona Ridder. A ponto de eu pensar em porque essa outra atriz é que não estaria fazendo a Sabina Spielrein. Ela se perdeu na construção dessa incrível personagem. Sabina Spielrein merecia uma performance memorável.
Então é isso! O filme "Um Método Perigoso" tirando alguns pontos baixos, como a escolha da atriz Keira Knightley, é muito bom e deixou muita vontade de rever.
Nota 08.
Por: Valéria Miguez (LELLA).
Curiosidade: O filme foi baseado na peça teatral 'A Cura pela Fala' (The Talking Cure), de Christopher Hampton, que por sua vez baseou-se no livro 'A Most Dangerous Method' (Um Método Muito Perigoso), de John Kerr. Sem esquecer que Christopher Hampton é quem assina o Roteiro do filme.
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