Creio que fui acelerada ver esse filme. Talvez embalada pelas ótimas críticas. O lance foi que me senti incomodada com a lentidão do início, e logo eu que não ligo para isso, desde claro que faça parte do contexto em contar a estória devagar. Foi só quando numa tomada longa com uma chuva que acordei. Pensando até em que eu gosto de olhar a chuva. Então, após esse tapa-na-testa, desacelerei. E dai para o final, acompanhei atenta. Não posso dizer que encantada com o drama narrado, mas sendo pela maneira como foi mostrado, ai sim. O Diretor Brillante Mendoza merece todos os aplausos.
"Lola" significa avó na língua local, em Filipinas. E o filme conta a estória de duas avós. Duas mulheres endurecidas pela vida. Duas mulheres inflexíveis em seus sentimentos. Duas mulheres determinadas em seus propósitos. Uma tragédia faz com que fiquem frente à frente. O neto de uma, da Puring (Rustica Carpio), mata o neto da outra, a Sepa (Anita Linda). O roubo de um celular + uma reação + o porte de uma faca = uma morte + uma prisão.
"Alagados, Trenchtown, Favela da Maré / A esperança não vem do mar / Nem das antenas de TV / A arte de viver da fé / Só não se sabe fé em quê".
Esse drama não se abateu na Manila dos cartões postais. São todos moradores de um lado pobre de lá. Mas do que viverem, são sobreviventes. Onde essas duas avós são mais dois exemplos do que está acontecedo no mundo atual. Se até há pouco tempo os anciões eram jogados em asilos, hoje suas parcas pensões sustentam a família. Sepa morava numa região alagada, em casas que mais parecia um túnel, estreito em todos os sentidos. O jovem assassinado seria um a sair dali, e quiçá, tiraria a todos, pois estava recém empregado. A alegria em ter um celular, levou a tristeza de vê-lo sair sim dali, mas num caixão. O que elevou a ira de Sepa, e em querer que o assassino de seu neto apodrecesse na prisão.
Já Puring vivia em "terra firme", numa casinha quase um beco. Ajudava a um outro neto a vender legumes pelas ruas. Sempre de olho no "rapa". Em casa, ficava o filho adoentado. Ao neto trabalhador, sua única diversão era ver televisão. Aparelho esse que será motivo de discórdia entre ele e avó. Questionando-lhe valores. Mas Puring também é a mãe deles, dai não difere das demais: os cuidados maiores vai para o filho que está no desvio.
Sepa também termina por esquecer de outro neto, Jay-jay. Um menininho que ama e é o companheirinho dessa avó. Sepa acaba descontando nele a sua ira quando se vê frente a frente com Puring pela primeira vez. Diante do caixão do neto, a outra vem pedir perdão. Para a filha de Sepa, a vida deve continuar, até por Jay-jay e o irmãozinho. Mas parece que nada amolecia o coração da mãe.
Em "Lola" além da pobreza, e até por ela, conhecemos um pouco do Sistema Judiciário de lá. Com celas lotadas, mesmo para um assassinato, se houver um acordo entre as partes envolvidas, o caso se encerra. Ao mesmo tempo que espanta, se leva a pensar em que tipo de ressocialização um jovem teria caso fosse condenado. Puring então passa até por cima de seus valores morais para conseguir juntar uma quantia que compre o perdão para o seu neto. Por querer lhe dá uma nova chance. Em sair do desvio.
A Religião em muita das vezes penaliza os de baixa renda. Todo um cerimonial de um enterro é uma delas. Se não há dinheiro para um caixão, por que não envolver o corpo num tecido? Para Sepa, mesmo o caixão mais barato está muito aquém dos seus rendimentos. Então sai em busca de dinheiro para enterrar o neto. E um pequeno milagre acontece ainda durante o velório. Como a abençoar a batalha de ambas.
E o filme também veio mostrar que elas ainda têm vez e voz em seus lares. É a velhice sendo respeitada! Um libelo às lolas de todos nós. Um excelente filme! Mas não me deixou vontade de revê-lo.
Por: Valéria Miguez (LELLA).
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