Intocáveis (2011). Quando Dois Párias se Encontram.
Não dá para dissociar a realidade do filme com a minha, uma cadeirante, ao analisá-lo. Sem esquecer também que foi baseado numa história real. Mas o cadeirante do filme está num patamar muito superior: de ser riquíssimo. O que também me fez pensar numa celeuma com também uma cadeirante rica numa novela. Por ambos mostrarem universos muito diferentes dos da maioria de nós. Até porque com muita grana, tudo é muito mais fácil, principalmente para um cadeirante. Mas meio paradoxal ou não, eu continuo afirmando que é melhor mostrarem as dificuldades de um cadeirante rico, do que de nenhum. Primeiro, porque a massa gosta mesmo de ver luxo e riqueza. Depois, que aproveitando-se dessa grande exposição, cria no inconsciente coletivo um olhar para se há ou não acessibilidade a sua volta. Isto posto! Vamos ao filme!
Ao traduzirem o título original por "Intocáveis", dá uma vontade de perguntar: "Mas intocáveis por que?" Muitos ainda acham que ao se ficar cadeirante se chegou ao fim de linha. De se ficar "entocado", numa de: "coloca-se a comida no cocho e se der por feliz!" Acontece que o personagem do filme sendo muito rico, além dos serviçais habituais, pode se dar ao luxo de ter um personal-faz-tudo: enfermeiro, motorista, acompanhante... Caso essa pessoa também se tornasse um amigo, aí já seria um presente dos deuses. Mas até isso acontecer, pairar sobre ambos o estigma de ser um serviço muito bem pago. O que até por conta disso entre eles haverá uma outra barreira, a física, mas de um modo metafórico. Porque o primeiro passo será um tocar ao outro. Vencendo essa primeira barreira, o passo seguinte seria algo do tipo: "Viu? Somos de carne e osso!" Cujas limitações acabam abrindo espaço para viver a vida por um outro caminho. Mas de pertinho com qualquer pessoa, a ponto de se tocar e ser tocado. Um simples beijo na testa já faz um bem enorme, que dirá sair às ruas, sair da "toca".
E quem seriam esses dois personagens? Dois homens de temperamentos fortes. Como dois párias na busca de uma nova regra social: a de que a amizade deve transcender a tal "normalidade" das sociedades vigente em qualquer esfera, em qualquer cultura.
De um lado temos Philippe. Interpretado pelo sempre ótimo François Cluzet. Um aristocrata meio esnobe, cujo dinheiro pode comprar tudo o que desejar, menos saber se é verdadeiro o apreço dos que o cercam. Tetraplégico. Ciente o quanto isso torna difícil uma convivência mais íntima. Até porque se faz necessário alguém com força física para levantá-lo da cama para a cadeira de rodas, por exemplo. Então, para Philippe esse secretário particular já se fazia urgente a contratação.
Agora, se para se lidar com um tetraplégico já criam muita resistência... Que dirá sendo ele um ricaço em querer empregar um ex-presidiário. Grandalhão. Que já pela aparência afastava as pessoas por temerem sua força física. Ele é Driss. Uma magistral interpretação de Omar Sy. A qual abro um parêntese para desejar vida longa a sua carreira! Bravíssimo! Driss é quase um produto do meio senão fosse pelo bom coração. Arredio. Explosivo. Espontâneo. Sem travas. Mas no fundo também um ser carente de afeto assim como Philippe.
Juntos, Philippe e Driss, nos levarão a variadas explosões de sentimentos. Ora se divertindo com eles. Ora se emocionando. Onde não se tem que pesar que nesse há uma classe social para lá de privilegiada, pois se ambos fossem pobres seria uma outra história. Assim, é um filme que vale muito a pena ver, e rever. Nota máxima!
Por: Valéria Miguez (LELLA).
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