Qual seria o caminho para a paz entre os homens? Já que para o da guerra já se está enraizado culturalmente neles.
E é por tentar encontrar um jeito de deixar os homens em harmonia entre si, que um grupo de mulheres farão das tripas coração para esse feito num pequeno povoado perdido num deserto libanês. Ligado até então ao resto do mundo pelo o que restou de uma ponte. Ponte essa que mais parece uma miniatura da Faixa de Gaza. Meio auto-suficientes, os habitantes só querem desse “outro lado” alguns produtos industrializados. Assim mesmo não por uma necessidade de consumismo, mas para um pouco de prazer pessoal. Como a lata de tinta para clarear a cantina local. Um perfume… Uma meia de seda… Acontece que ao chegar o primeiro aparelho de televisão, vem junto como um aviso: “Cristãos e Muçulmanos continuam em pé de guerra. Não tendo uma saída para que possam viver em paz.”
A Diretora Nadine Labaki mais uma vez brinda não apenas a nós mulheres, mas também a todos nós que gostamos de ver e ouvir histórias de pessoas simples. Para quem também amou “Caramelo” com certeza irá também se encantar com esse. Já que “E Agora, Aonde Vamos?” nos leva às lágrimas de se divertir com todos os personagens, mas também porque há cenas que machucam. Além do peso do nome da Diretora eu não me privaria de ver esse filme porque numa lida a uma sinopse – tentar evitar um conflito entre cristãos e muçulmanos -, seria em tom de comédia. Um gênero que eu amo! Além claro da curiosidade de em que contexto o título se encaixaria. E fechou com chave de ouro a tal cena. Na qual eu exclamei um “Putz!”, mas com sorrisão no rosto. Pois assim é a vida. Ela não tem um happy end, muito menos numa região de conflitos como o Oriente Médio.
O filme tem um começo almodoviano. Um grupo de mulheres num cortejo fúnebre. A cena em si é quase o final do filme. Pois se volta no tempo para então conhecermos todo o drama que todos vivenciaram até então. Elas são mulheres que apesar das diferenças religiosas se unem para tentar evitar que a paz dali fosse quebrada. Viviam numa paz bem melindrosa, já que culturalmente deveriam viver em pé de guerra, e logo por pressão religiosa. E mesmo que além dos limites daquela localidade elas nada poderiam fazer, pelo menos ali elas fariam o impossível, ou melhor dizendo fariam o impensável para continuarem a viver em paz. Mas no frigir dos ovos era uma guerra insana, e não uma guerra santa entre cristãos e muçulmanos. Algo latente, como pisar em campo minado. Daí cada tentativa delas era como abrir uma ferida antiga. Que para contornar mais confusões elas se metiam.
Não sei se foi algo proposital pela Nadine Labaki, como uma homenagem. Nem sei se o termo certo seria esse. É que uma importante parte desse filme, pelo menos a mim me levou a pensar no “Tartarugas Podem Voar“, com o jovem Satélite procurando um local com melhor recepção para a antena parabólica. Ambos os filmes denunciam a estupidez humana espalhando, e largando, minas terrestres.
Em “E Agora, Aonde Vamos?” ao sintonizarem o primeiro aparelho de televisão acabou trazendo a guerra para dentro daquela localidade. E justamente um dos muitos conflitos que os colocavam como grandes inimigos. Por sorte pela má recepção da tv a notícia fora breve, como também as mulheres estavam antenadas iniciando ali uma de fato guerra santa para manter a paz entre os homens da região. Elas foram para a frente de batalha, unidas, rompendo até os conflitos interiores na tentativa de também dar um basta em tantas mortes de uma guerra que nem a eles pertencia. A bem da verdade as guerras interessam mesmo as indústrias bélicas.
Há momentos ternos que dói na alma. Em ser desumano não poder chorar a perda de um ente querido. Alguém que ousava sair daquelas cercanias para trazer um pouco de modernidade para os moradores locais. Mas no geral acompanhamos com sorriso no rosto e numa torcida por todas elas. Pois sem tempo hábil para pesar os prós e os contras, a cada virada do destino elas seguiam em frente. Nada as detinha. Será mesmo? Já que o título do filme meio que entrega. Voltando então a reflexão inicial pela busca do caminho para que todos os povos vivam em paz. Esse pequeno microcosmo perdido numa região do Líbano nos traz um.
Performances excelente. Fotografia ímpar. Trilha Sonora como um grande coadjuvante. Mais um filme que coloca Nadine Labaki entre os grandes Diretores. Um filme para ver e rever.
Por: Valéria Miguez (LELLA).
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