“Doce contentamento já passado,
em que todo o meu bem já consistia,
quem vos levou de minha companhia
e me deixou de vós tão apartado?” (Camões)
Ter Vanessa Redgrave atuando, já é um belo convite para que eu assista um filme. Franco Nero, também. Se bem que com ele, os Westerns de outrora, a memória já não ajuda mais. Com ele, o que ainda está na memória, é seu personagem em ‘Querelle‘. Somado a eles, em saber que veria a Itália. Suas paisagens sempre me agradaram. Completaria, se tivesse uma Trilha Sonora apaixonante, já que Romances na Itália me faz pensar em músicas lindíssimas. Mas isso viria com o desenrolar do filme. Assim, lá fui eu assistir ‘Cartas Para Julieta‘.
Com o início do filme, também me peguei a pensar em que casal escolheria para uma pré lua de mel, Verona. Mas precisamente cenário de ‘Romeu e Julieta’ – de Shakespeare. Seria um teste, para ver se o amor deles não morreria?
O porque da escolha de Verona. Para Sophie (Amanda Seyfried) não restara outra opção. Ela queria sim um tempo maior com seu noivo, Victor (Gael García Bernal), porque ele logo inauguraria o seu restaurante. Então, ela queria uns dias juntos, só ela e ele. A questão é que o local fora escolhido por Victor. Porque iria ver os fornecedores – vinhos, queijos, frios, azeites… -, para o seu restaurante. Assim, o cenário shakespeariano para ele, era de fato uma viagem de negócios. Nada a ver com a viagem romântica que Sophie planejara.
Embora Sophie trabalhasse numa grande Editora, o seu trabalho era de apurar dados de um fato. E talvez por ter estado envolvida com a sua mais recente pesquisa – encontrar quem seria o marinheiro sorridente na famosa foto ‘O Beijo na Times Square‘… -, a levou a fantasiar que encontraria a inspiração sob o balcão da Julieta. Além de uns dias in love com Victor. Bem, eu me considero uma pessoa muito romântica, mas também não posso negar o meu lado prático. Dai, se o meu propósito seria escrever uma longa estória romântica, eu estaria sim fazendo pequenas anotações. Sophie só passou a anotar, a escrever, a partir de uma estória que já contarei. Quase uma estória pronta, como se só faltasse transcrever, colocar no papel uma estória alheia. Posso até aceitar como o inciar de uma carreira literária. Mas a personagem parecia um tanto quanto superficial.
Agora, se Sophie queria ser escritora… Por que não ia colhendo dados ao acompanhar Victor nas fazendas? Pelo menos já teria um belo background para uma estória, e até uma romântica. Acontece que ela não se sentia integrada naquele contexto do seu noivo. Isso já fica evidente quando sente que a sua mão ficou suja com a farinha (trigo) da massa que Victor fizera. E ele estava entusiasmado, como se tivesse inventado o macarrão.
Como podem ver, a tal lua de mel, estaria relegada aos intervalos que possivelmente ambos teriam com essa viagem. Enquanto isso, Victor era um entusiasmo só, saboreando, como também aprendendo: receitas e a História de cada produto. A única coisa que estava lhe escapando do olhar, era a sua noiva. Que sentiu suja a mão de farinha, mas não fez o mesmo com um sorvete na cara, de um outro cara…
Sem a companhia do noivo, Sophia vai visitar os pontos turísticos de Verona. Sentada sob o balcão de Julieta, fica observando, e quem sabe clamando por uma inspiração. Aqui, um outro detalhe a faz uma personagem sem consistência. Pois se queria tanto aproveitar a viagem para escrever um livro, tendo a estória do filme, no tempo atual, logo, tendo internet, ela já deveria ter lido sobre o que fizeram do tal cenário de Shakespeare, nas últimas décadas, lá em Verona. Até me causou espanto, do dela, ao ver uma jovem indo embora, chorando muito. Não lhe passou pela cabeça que a jovem estava sofrendo por amor?
Saindo um pouco da ficção, e falando de Turismo e Marqueting… É que quando governos pensam de fato em investir no Turismo local, conseguem mesmo. Porque turistas, geram Receitas. Claro que tem que ter um planejamento, um certo controle para não causar danos ambientais ao local. E foi por ai que fizeram em Verona. Aproveitaram da estória do livro, para também atrair um outro tipo de Turistas; e na Casa da Julieta, alugam até para casamento. Um pouco de Verona:
“Verona sabe muito bem o que a faz famosa: a história que data dos tempos romanos, uma localização que a fez ser disputada pela Itália e por outros países europeus, além de algumas das mais bonitas arquiteturas romana, românica, gótica e renascentista de toda a península. Mas tirando os veroneses, pergunte a qualquer outra pessoa o que mais ela conhece sobre a cidade? Romeo e Julieta. Isso mesmo. Em Verona também temos uma casa com balcão.
A família Capuleto, de Romeo e Giulieta, realmente existiu, embora nunca tivessem morado na casa que hoje se chama Casa Giulietta (Via Cappello 23, 045 803 4303). Mesmo assim, os turistas ainda se espremem no pequeno pátio para olhar a varanda, que na verdade foi construída nos anos 1920 para que tivessem algo palpável para olhar. A casa pode ser visitada, mesmo que seja para pisar na varanda e voltar.” Mais, aqui: http://www.guiatimeout.estadao.com.br/italia_verona_contexto .
Voltando ao filme… Numa tarde, já quase hora do fechamento, ela vê uma jovem recolher as cartas deixadas por turistas, num muro da casa da Julieta. Curiosa, Sophie a segue. A mulher encontra-se com outras num restaurante que tem como nome: Cartas para Julieta. Elas vão para o interior da casa. Sophie, também entra, e pergunta do porque de recolherem as cartas. A jovem em questão, é Isabella (Luisa Ranieri). Que explica que ela e as outras – Francesca, Donatella e Maria -, respondem as cartas. Patrocinadas pela Prefeitura. À cada uma, um tema específico, nessas respostas: problemas maritais, doenças, perdas…
Interessada em algo, de fato, desde que chegou a Verona, Shophie investe seu tempo nisso, em acompanhar o que elas fazem. Indo ajudar Isabella, com as cartas, ao retirar uma, uma pedra do muro cai, então retira uma carta que estava lá dentro. Ao ler, vê que fora escrita a 50 anos atrás. E que contava de um grande amor entre dois jovens: ela, inglesa e ele, italiano. Se conheceram durante uma passagem dela pela Itália. Na carta, dizia que estava dividida entre ficar, fugir, com ele, ou seguir de volta a Londres com os pais. Já que esses proibiram o namoro. Todas começam a divagar sobre o que teria acontecido depois: se Claire ficara na Itália com o Lorenzo, ou não. Sophie pede para responder a Claire.
Continuando sem ter o noivo ao seu lado… Eis que um jovem inglês, bravo, se faz presente. Era Charlie (Christopher Egan), o neto de Claire. Ele acompanhara a avó à Itália. Claire aceitara a sugestão de Sophie, na carta. Embora décadas se passaram, ela queria estar com o seu grande amor, Lorenzo. Charlie achava aquilo uma loucura, mas amava a avò para deixá-la sozinha nessa aventura. Claire conta que o conhecera em Siena; viera fazer um Curso de Arte, em Toscana. Se valendo do seu talento em apurar dados, Sophie traça num mapa os vários Lorenzo Bartolini daquela região. Então os três seguem juntos, nessa busca. Desde aquele que se diz ser o seu jovem Lorenzo, passando até por aquele que a própria esposa pede que o leve, será um longo caminho a ser percorrido…
‘Cartas Para Julieta’ trata-se de uma Comédia Romântica, com um pouco de Drama. Assim, com todos os ingredientes desse gênero. Logo, não há surpresas no que irá acontecer. O Roteiro também não ajuda muito; é bem mediano. A Trilha Sonora que poderia ser um grande coadjuvante, ficou perdida. Com uma ou outra música que combinaram de fato com a cena.
Então, o que fez valer a pena ter assistido? Além de um belo Tour por essa região da Itália.
Gael Garcia parecia uma criança, brincando feliz, num parque de diversão. Tão esfuziante que acabou passando do tom. Num solo, onde a estória não pedia. Pelas suas outras passagens em outros filmes, fiquei pensando que a Direção falhou muito. Em relação a Amanda Seyfried, me peguei a pensar se já fui com um certo olhar crítico. Já que não gostara também da atuação dela em ‘Querido John’. Enfim… Quem fez de fato valer a pena ter assistido ‘Cartas Para Julieta’, foi ela: Vanessa Redgrave. Uma das Grandes Divas do Cinema. Vê-la atuando, é uma grande aula. Além do que, é muito bom em ver em cena um par romântico com atores mais maduros. Franco Nero, casado com ela na vida real, deu química no romance da tela. Como um cavalheiro à moda antiga, não catalizou para si os olhares, mesmo tendo belos olhos. Foi para Vanessa, a emoção sentida.
Por fim, é um bom filme. Mas que não entrou para a minha lista de querer rever. Quem sabe, passado um longo tempo, e numa exibição pela tv.
Por: Valéria Miguez (LELLA)
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