Por: Valéria Miguez (LELLA).
Numa atualidade onde alguns por egoísmo querem uma regressão social… Eis aqui um filme que irá tocar a outra parte que busca por mais e mais direitos humanitários até para uma outra parte bem maior do planeta… Ele fala de uma guerra civil que quando muito foi parar em algum parágrafo de um Livro de História Geral. Lembrando ainda que mesmo as do tempo presente quando veem a público são logo esquecidas… Então, é de se aplaudir quando fatos como esses são mostrados em Filmes! “Hotel Ruanda (2004), é um exemplo. Logo, o filme “Um Boa Mentira” também não deixa de ser uma releitura de páginas da História da Humanidade: do que ela tem de perverso e do que ela tem de bom! Mas tem muito mais! Ele conta a história de um grupo de sobreviventes do Sudão que foram viver nos Estados Unidos. Mas que nem por isso o filme passa rapidamente por tudo o que eles passaram ainda em solo pátrio. São órfãos de uma Guerra Civil deflagrada por religião e poder, em 1983, dizimando muitos sudaneses… Vale lembrar que genocídios até por limpezas étnicas não são exclusividades do solo africano…
“Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá acompanhado.” (Provérbio Africano)
“Um Boa Mentira” fora o sonho americano para alguns refugiados sudaneses que nem sabiam o que significava isso. Era apenas a esperança de uma vida melhor após tantas lutas por sobrevivências. E o filme nos mostra todas elas! A longa caminhada que fizeram sem uma direção certa… Onde por vezes indicadas por aqueles que não mais poderiam seguir em frente… Ou quando tiveram que aceitar o sacrifício de um deles para que então os demais pudessem seguir adiante… Ou mesmo já estando num de Campo de Refugiados, já em 1987… Com racionamento de comida… Doenças… Eles ainda tiveram que esperar 13 anos até terem seus nomes numa das listas de admissão aos Estados Unidos…
“Huckeberry Finn mentia para sobreviver em situações indesejáveis. Mas mais a frente as mentiras mudaram porque ele mudou… Quando diz ao caçador que não tinha escravos, era mentira, mas para salvar Jim. A liberdade de Jim significava mais que o dinheiro de entregá-lo…“
Ainda em solo pátrio, e antes de terem quase a totalidade dos familiares dizimados, levavam uma vida bem rural, entre rebanhos bovinos e tendo como “vilões” felinos famintos… O de modernidade que por lá apareceu foram as armas, os helicópteros… É! As armas chegando primeiro… Com isso tudo que iriam conhecer dali para frente seriam de fato novidades… Já começando pelo o voo em avião, a comida à bordo… Mas o que mais chamava atenção estava invisível: do irem ao encontro de uma vida melhor… E em “Uma Boa Mentira” teremos a vida de quatro deles, mas representando a de todos que ficaram conhecidos como os Garotos Perdidos do Sudão. São eles: o gigante e religioso Jeremias (Ger Duany), o habilidoso Paul (Emmanuel Jal), o bom com a oratória Mamère (Arnold Oceng) e a meiga Abital (Kuoth Wiel). É Mamère quem nos conta essa história! E lá foram eles felizes como crianças! Mas já no desembarque surge a primeira pedra nesse novo caminho… Mas o jeito eram prosseguirem…
“Olhe para mim. Eu era do exército. Estive na guerra. Mas muitos de nós éramos só garotos… Confrontando coisas inimagináveis. Tendo que fazer escolhas que ninguém deveria fazer. Seu irmão fez a escolha dele naquela dia. Uma decisão só dele. A decisão não era sua. Você não tinha o poder. Nunca teve.“
Separados da Abital, os três então conhecem aquela que os ajudariam a arrumar um emprego, Carrie Davis (personagem de Reese Witherspoon). Fora buscá-lo em lugar da representante da instituição que os trouxeram da África, Pamela Lowi (Sarah Baker). Já a partir desse primeiro contato, Carrie começa a perceber que tudo era realmente novidade para eles. Mas nessa convivência não fora apenas o choque cultural que a deixara meio perplexa, mas sim em quanto mais eles iam descobrindo as novidades dali iam também preservando algo própria. Onde numa cena, por exemplo, faz um bem à alma: “Estamos olhando as estrelas.”… Assim eles prosseguiram meio que separando dos itens considerados essenciais para muitos dali o que realmente era essencial para eles… Pausa para falar da performance de Reese Witherspoon! Ela esteve ótima até em não solar. Muito embora creio que nem conseguiria por que os três – Ger Duany, Emmanuel Jall e Arnold Oceng – brilharam! E aplausos também para o Diretor Philippe Falardeau (de “O Que Traz Boas Novas“) até pelo timing perfeito contando muito bem toda essa história!
“Mesmo que nossas diferenças possam nos dividir, nossa humanidade nos une. Somos irmãos e irmãs tentando compartilhar esse mundo maravilhoso que chamamos de lar.”
Num mundo onde valorizam tanto os bens materiais em lugar do que seria realmente essencial para si próprio e os demais a sua volta… Num mundo onde o desperdício até de alimentos ainda é muito grande… Assistir ao filme “Uma Boa Mentira” – que mesmo contendo cenas que doam na alma -, ele também nos lava a alma! Por ainda ter pessoas verdadeiramente humanas e desejosas de um mundo cada vez mais menos desigual. Mas principalmente que histórias como essas, dos Garotos Perdidos do Sudão, nos levam a reafirmar nossos conceitos de que os valores morais e éticos são o que realmente levamos de bagagem na jornada da vida. Mesmo tendo que atravessar infernos… Mesmo que pelo caminho tenhamos que contar “uma boa mentira“… Assistam essa emocionante história!
Excelente comentário Valeria! 🙂
Bela crítica!
Grata, Arthur e Matheus!