Confesso que na primeira lida sobre esse filme eu pensei num outro, o “Para o Resto de Nossas Vidas“. É que se é com reencontro de amigos esse de 1992 será sempre por mim lembrado. Aí me peguei a pensar se “Até a Eternidade” também ficaria nessa minha memória afetiva. E ainda uma outra dúvida ao saber da longa duração dele: se me levaria ficar atenta até o final. Mesmo ciente de que o Cinema Francês não tem pressa ao contar uma história, se nesse teria o conteúdo para tanto. Então era esperar e conferir. Conferido, e…
Amei! Das lágrimas rolarem livres ao final, já que no decorrer do filme elas brotaram em algumas cenas. Não estou querendo com isso afugentar ninguém, nem dizer que o filme apela para nos levar a essa comoção. A emoção vem que tem certas situações que machucam, que entristecem, que vem com uma sensação de alma lavada, ou mesmo em partilhar uma alegria, compartilhar um problema, uma dor… Por ai. Como também há momentos no filme onde o riso ilumina a face. E assim o filme foi me levando. Embora eu confesse que em dado momento me vi pensando como seria já a cena final, e então pensei se ele fosse mais curto se eu não teria me focado já no final. Mas logo depois percebi que não foi pela longa duração, mas sim pela importância do fato em si na vida daqueles amigos. Tanto é verdade, que já com duas horas de filme me peguei querendo que ele não terminasse logo.
Embora ciente que o filme é para um público restrito, me vi na dúvida se traria spoiler ou não. É que para traçar um pequeno perfil desses amigos, talvez escape algum lance do filme. Tentarei não contar os mais relevantes, mas já fiquem de sobreaviso. E antes, reforço a sugestão para que não deixem de ver esse filme.
A história se passa em alguns dias da vida de um grupo de amigos. Não sei se seria certo dizer que irá marcar como um divisor de água para eles como um todo, pois para uns em separado, sim. Mas é certo afirmar que todos lembrarão para sempre. E que de certa maneira sairão renovados onde foi desencadeado por um acidente do destino.
Um grupo de amigos aproveita o aniversário do filho de um deles para curtirem um tempo junto. Amigos de longa data, onde cada um trilhou seu caminho, o que mantém alguns deles afastados nos outros meses dos anos, veem nesse período uma confraternização. Sendo um grupo bem heterogêneo, algo já rareando fora da ficção já que o usual atualmente é terem todos os interesses em comum, o fator que irá diferenciar essa reunião das anteriores estará em se conhecerem de fato mais a fundo. E a partir daí, aceitar o outro como ele é. Isso irá gerar cenas doloridas. Onde o que omitiram antes fora devido a não aceitação de alguns. Até pelo preconceito alimentado por algo cultural. Mas também por vergonha em expor aos demais algo tão íntimo.
O que os expõe desse jeito tão frágil foi que um deles – o mais querido por todos – sofre um grave acidente às vésperas dessa reunião. Ficando internado numa UTI. Então os demais decidem seguir com essa pequena férias à beira-mar. Levando também na bagagem o sentimento de querer o tal amigo de volta a eles.
E quem são esses amigos? Cujos sentimentos se encontram à flor da pele, levando-os a também testar se essa amizade resistirá a falta de confiança. Um pouquinho de Ludo, Max, Marie, Éric, Vicente, Antoine e Jean-Louis:
- Ludo (Jean Dujardin) é o amigo acidentado. Seguiu a carreira de ator. De todos, é o mais desencanado. Daqueles que seguem como lema: “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.”
- Max (François Cluzet) é o dono da casa de praia para onde todos vão. De todos é o que mais teve sucesso profissionamente no que se refere a dinheiro. Meio carcamano, Max não mede as palavras. Talvez por só saber lidar com o lado racional. Casado com Véro (Valérie Bonneton), é ela que tenta impor um freio ao descontrole dele nesses dias, mesmo sem entender o porque.
- Marie (Marion Cotillard) se encontra fragilizada também por um outro motivo. Um outro segredo seu vem à tona de um jeito brincalhão para quem disse, que deveria ser aceito com naturalidade por todos, mas que pelo silêncio que se formou, mostrou que ainda não estavam preparados.
- Éric (Gilles Lellouche) esconde dos amigos algo muito importante. Tenta passar a ideia de desencanado, mas é mais para esconder a sua dor. Precisa aprender que um homem também chora.
- Vincente (Benoît Magimel) encontra-se num grande dilema, o que pode até resultar numa separação com Isabelle (Pascale Arbillot). Ela sofre, meio já prevendo o fim do casamento. Vincente ao se abrir apenas com Max não contava com o descontrole desse.
- Antoine (Laurent Lafitte) é o que mais se expõe. Chegando a perturbar os demais com a sua insegurança. A ele faltaria saber lidar com o seu lado racional, mesmo em se tratando de uma dor de amor.
- Jean-Louis (Joël Dupuch), parece ser o mais centrado. Assim como os demais, sentem pelo amigo que se encontra hospitalizado. Jean-Louis mora à beira-mar. Tem um pequeno comércio de ostras. Por se encontrar num período de defeso*, o problema de dinheiro vem a complicar esse momento frágil.
Paisagens lindas. Uma Trilha Sonora incrível, cuja a cena com Nina Simone cantando “My Way” não apenas emociona como ficará eternizada. Química perfeita entre todos os atores. Diálogos e Silêncios que emocionam. E que apesar das minhas lágrimas no final, o filme deixa uma leveza. Aplausos também para a direção de Guillaume Canet. Um filme que deixou vontade de rever. Ah sim! Consegui não contar nenhum spoiler.
Por: Valéria Miguez (LELLA)
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