Lupas (57)
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Em como lidamos com o acaso. É aquilo que escapa do controle de seus personagens que de fato dá vida à narrativa do filme. Contudo, é precisamente na forma como estes personagens lidam com estes eventos ocasionais, aliado ao modo específico que Hamaguchi trata em tela as relações desenvolvidas, que torna tudo isso uma obra-prima.
Billy Joy Vargas | Em 28 de Janeiro de 2022.
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Acaba sendo um filme que sofre para se desvencilhar de alguns preceitos padronizados pelo cinema blockbuster contemporâneo. O que é prejudicial, tendo em vista a eficiência de Reitman quando se mostra dedicado a uma abordagem mais honesta e despreocupada nas cenas de ação da metade inicial. Assim, deixa de ser realmente um achado do gênero para diluir-se no mar de filmes semelhantes sendo produzidos anualmente.
Billy Joy Vargas | Em 24 de Janeiro de 2022.
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Poderia ser um filme muito mais interessante se assumisse de vez a totalidade de sua história no entorno destes personagens sobre-humanos, em detrimento de qualquer preocupação maior com a dimensão humana-existencial que busca desenvolver. Percebe-se bem como alguns desses personagens possuem potencialidades cênicas que poderiam ser um terreno fértil para a exploração mais frontal, renegando certa verossimilhança padronizada pelo MCU. Contudo, soa até anacrônico cobrar isso da franquia.
Billy Joy Vargas | Em 17 de Janeiro de 2022.
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Muito mais um docudrama adulto de History Channel do que filme biográfico concretamente transgressor, Benedetta possui escolhas formais genéricas e um drama que, quando busca ser provocativo, nunca escapa de uma zona bastante confortável.
Billy Joy Vargas | Em 05 de Janeiro de 2022.
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Se as pinturas nas cavernas denotam um desejo humano, este parece concretizado através da substituição dos planos de montanhas rochosas pelo fascínio com as metrópoles e seus monumentos artificiais. O mais irônico é que, partindo de um desejo do homem, parece até impossível que no meio de tudo isso ainda exista a figura do indivíduo. Mas Reggio a encontra, nem que para tal seja necessário reduzir a velocidade do obturador de sua câmera, diminuir a profundidade de campo.
Billy Joy Vargas | Em 29 de Dezembro de 2021.
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De início, drama referencial desinteressante e até formalmente pasteurizado. Contudo, a situação transfigura-se em história moldura de uma narrativa classicista de incomum sensibilidade. E, então, tudo parece ressignificado a partir da força dessa introjeção narrativa. A utopia do encontro aqui é conduzida com tamanha leveza cênica, com tamanho apuro estético acerca das nuances entre diegese e voz em off, que parece ter saído de outra era cinematográfica.
Billy Joy Vargas | Em 28 de Dezembro de 2021.
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O narcisismo da Wachowski aqui impede que qualquer ideia de filme se concretize de modo eficaz. É um filme incapaz de transcender os limites impostos por sua premissa de obra pessoal. Essa abordagem autoconsciente parece existir somente no imaginário da criadora na medida em que não alcança concretização notável em tela. Um filme-tweet, para o bem e para o mal.
Billy Joy Vargas | Em 27 de Dezembro de 2021.
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Não deixa de repetir um esquema estilístico que também torna Hereditário um filme pouco regular na sua articulação dramática. Ari Aster parece um diretor já muito maduro na construção de ambientes que emanem dramas bastante evidentes das relações humanas. O seu grande problema parece ainda se dar na busca por momentos de maior purgação da unidade dramática.
Billy Joy Vargas | Em 25 de Dezembro de 2021.
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As imagens nos monitores e suas dialéticas entre o que é sobrenatural e o que existe concretamente nos espaços soturnos do filme são propulsores das angústias existencialistas. São como gatilhos que afloram o que existe de mais fatalista no interior de cada personagem, espécies de lembranças acerca de uma tragédia humana atemporal que encontra abrigo nos dispositivos próprios de uma época. Cada plano de Pulse é atestador do copo meio vazio.
Billy Joy Vargas | Em 23 de Dezembro de 2021.
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Spencer é brilhante precisamente porque Larraín alcança aqui o que não havia conseguido em Jackie: a concretização formal de um filme intimista ao deixar sua câmera muito próxima de Diana, porém sem detrimentos à articulação de um ambiente muito necessário às ressonâncias sentimentais de sua protagonista.
Billy Joy Vargas | Em 21 de Dezembro de 2021.
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Se o progresso das máquinas resultou em problemas para muitos habitantes, a resposta de alguns deles parece ser a transfiguração. Os assassinos do filme tornaram-se, assim, máquinas humanas que não conseguem controlar seus movimentos sádicos. Seus instrumentos remetem a um passado onde o emprego era pleno e as placas de “Coca-Cola” e “We Slaughter Barbecue” não representavam mundos tão distintos.
Billy Joy Vargas | Em 17 de Dezembro de 2021.
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Os recursos práticos utilizados por Friedkin durante as cenas de possessão deslocam o filme para algo que vai além do medo frontal (de fato, o imaginário popular acerca do filme é muito mais potente do que seu impacto imediato). Ao invés disso, o demônio em Regan é muito mais uma agressão, uma obscenidade que perturba qualquer noção de normalidade. No fim da contas, Pazuzu é muito mais um monstro a ser domado, algo natural a filmes de desastres, do que um símbolo verdadeiramente maligno.
Billy Joy Vargas | Em 08 de Dezembro de 2021.