Jordan Peele mostra novamente como fazer bom cinema
Jordan Peele é um cineasta interessante, ao começar estrelando o talk show Key and Peele era e se esperar que ele se manteria no gênero da comédia, mas ele subverteu todas as expectativas sobre se mesmo fazendo filmes no gênero de horror.
Apesar de Corra! Ter sido lançado antes e a minha crítica tenha sido feito antes eu vi Nós primeiro e fiquei simplesmente apaixonado pelo trabalho de diretor.
Em seus dois trabalhos ele muda a forma de fazer filme de terror, enquanto outros filmes caem na tentação do susto fácil, o principal problema de filmes como Um Lugar Silencioso, os chamados Jumpscares (imagens assustadora e ou sons altos que surgem do nada no filme), além de que Jumpscares são previsíveis eles são uma técnica fajuta e pode estragar o potencial de certos filmes se tornarem clássicos, como já citado Um Lugar Silencioso. Mesmo que os jumpscares não sejam totalmente falhos e se houver um bom diretor por trás das câmeras é uma técnica extremamente eficiente, Peele opta por algo bem mais valioso a criação de tensão em desconforto.
Muitos podem considera o fato de que seus filmes não assustam um erro e como eu disse no filme Corra! Aquele filme não chegou a me causar um tensão, apenas um desconforto.
Mas em Nós eu algo que a ausência de sustos é algo valioso, pois além do filme ser extremamente tenso, isso ajuda ao filme focar apenas no minimalista, ao invés de susto grandiosos o filme vai nos mínimos detalhes que mesmo que não assustem são bem horripilantes.
O terceiro ato do filme é grandioso, se o primeiro e o segundo ato construiram a tensão o terceiro a aumentou mais a um ponto que chega até quase ser desconfortável ver o filme, algo que naturalmente seria um defeito, mas é isso que o diretor queria, que o filme se tornasse incomodamente tenso.
O terceiro ato é quando a trama do filme vai do micro para o macro, é nesse ato que algumas das possíveis explicações (já que nada é realmente confirmado) sobre a trama do filme são postas na mesa, por isso pode se argumentar que o filme se torna expositivo nesse momento e sim, mas o filme utiliza da exposição de maneira inteligente, gerando mais dúvidas do que apenas explicações, ou seja, mesmo se explicando parcialmente o filme não se entrega de bandeja ao espectador, nunca duvidando de sua inteligência.
Pra terminar sobre o terceiro ato, mas que cena de ação excelente, a forma como o filme usa a coreografia da luta parecendo quase um balé (algo que tem haver com o contexto da cena) e combina isso com a excelente montagem que mistura flashbacks com a ação do presente é inacreditável.
O roteiro é outra coisa perfeita, alegórico em nunca se tornar "pretensioso", ou seja, sem nunca se achar mais inteligente do que é, a forma como o roteiro combina metáforas visuais, que provavelmente foram sugeridas pelo roteiro, já que o diretor e o roteirista são a mesma pessoa, e metáforas textuais é incrível, é um filme alegórico, mas que nunca chega ao ponto de ser irresistível por ser complexos de mais, os subtextos ficam mais em um segundo plano da narrativa, algo mais alheio ao o que é visualizado em tela como a trama principal do filme.
As personagens são muito boas e suas interpretes falham em nada. Os atores tem um difícil trabalho interpretar dois personagens sem fazer um ser igual ao outro e todos fazem isso perfeitamente. Lupita Nyong'o mesmo com 11 anos de carreira tem o seu primeiro papel de protagonista de um filme e ela passa todo um amor maternal nas duas partes, mas enquanto a que nós acompanhamos em tela, o lado "bom", é inteligente e estrategista usando de tudo a disposição para sobreviver, a sua clone é fria, calculista, manipuladora e extremamente inteligente. Lupita dá uma interpretação memorável passando por varias situações que na mão de uma atriz inferior seria risível de ruim, sério se essa mulher não concorrer a um Oscar não existe justiça.
Winston Duke é inferior a Lupita, mas não deixa a deseja, a forma como filme subverte as expectativas sobre essa personagem que em outro filme provavelmente séria o protagonista e extremamente corajoso, aqui ele é um coadjuvante e um covarde. Ele faz o alívio cômico do filme e dependendo do lado que você olhar ele quebra a tensão do filme, mas eu acho que as piadas feita por ele são necessárias, pois o filme tem um tom satírico que ele realça. A sua contraparte curiosamente é a típica personagem valentona nesse tipo de filme, mas ao mudar a posição de herói geralmente atribuída esse arquétipo para a de vilão Peele subverte o gênero de uma maneira perfeita.
Outros que dão um show são as crianças, Sahadi Wright Joseph tem uma construção de uma adolescente memorável fugindo dos clichês desse tipo e personagem e com um humor extremamente ácido em suas críticas, como na piada inicial do filme que faz uma ótima crítica ao governo americano. Já Evan Alex entra facilmente no top das melhores atuações infantis, tanto na sua forma original, quanto no seu clone ele dá um show, as interações dele com seu clone são inacreditáveis por conta de sua interação. Sem falar que o sua personagem tem um elemento que realça uma critica do filme.
A trilha sonora é muito boa, a mixagem de som e a edição de som também não falham e a cinematografia trabalha muito bem com o escuro mostrando apenas o necessário para o entendimento da cena.
Falando brevemente das criticas feitas pelo filme, já que não posso me aprofundar muito nelas pois seriam spoilers. Ao usar a ideia dos clones malignos o filme cria u importante debate sobre o humano animal e o humano racional, o lado racional seriam os protagonistas que se adequaram as convenções da sociedade, vestiram máscara para o mundo, que é realçado pela personagem de Evan Alex que usa uma máscara e o poste do filme que mostra a personagem da Lupita segurando uma máscara. Já o lado animal seriam os clones, instintivos e que não se prendem convenções da sociedade, o debate gerado pelo filme está relacionado pelo fato de que nós reprimimos cada vez mais o nosso lado animal para nos adequarmos a sociedade e esquecemos que ele também é necessário para a nossa vida estar em equilíbrio.
O filme faz uma crítica também o sonho americano liberdade, igualdade e justiça para todos, enquanto eles dizem que o seu país defende isso o presidente quer construir um muro entre o México e os Estados Unidos, algo realçado pelo fato de o filme se passar no México e em uma das cenas é mostrada uma corrente humana que passa por toda a fronteira entre Estados Unidos e México. Essa crítica a sociedade americana é realçada pelo nome do filme em inglês, Us que pode tanto significar Nós, quanto U.S, United States, Estados Unidos.
Nós é uma obra prima, um filme raro e um gênero recheado de obras clichês, é bem roteirizado, dirigido, atuado, contém uma ótima trilha sonora, boas mixagem e edição de som, além de uma ótima cinematografia. O filme também não se poupa de criticas ao comportamento humano e a sociedade americana, que culminam em, além de um ótimo filme, um excelente estudo antropológico
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